DISCOS
Spazz
Sweatin to the oldies 1 & 2
· 28 Jan 2005 · 08:00 ·
Spazz
Sweatin to the oldies 1 & 2
1997/1999
Slap-A-Ham
Spazz
Sweatin to the oldies 1 & 2
1997/1999
Slap-A-Ham
Quando chega a altura de avaliar o trabalho de bandas cujas demonstrações musicais raramente ultrapassam os 2 minutos de duração, torna-se ténue a fronteira entre o puramente anedótico e o apreciável. Venha até mim a muleta do name dropping, pois serve os propósitos da ocasião. A cada saco pertence a respectiva farinha (pó sarin, se preferirem): os Locust – a praga sónica de San Diego - são amplamente estimulantes, os Anal Cunt adensam a cada novo disco a idiotice de um legado que já conta com mais de 1000 músicas (??), enquanto que aos Napalm Death fica reservado o merecido estatuto de históricos do meio. A que saco pertencem então estes Spazz? A abrasividade deste trio terrorista (agora espalhado por outras organizações) serve de munição ao canhão underground, já que tudo isto é pólvora da melhor qualidade. Alerta vermelho! Manter a devida distância!

Reza o mito - fundamentado pela comunidade cibernauta - que são às centenas as faixas que o power-trio lançou através de discos em nome próprio, splits, compilações e dezenas de sete polegadas, sendo que grande parte destes itens de coleccionador pertencem agora a uma obscuridade a que só os fãs têm acesso. É por demais evidente que os autores de La Revancha se davam por satisfeitos com a admiração de uma elite fervorosa - muito afeiçoada ao skate e ao hardcore mais extremo. A um passo de constituírem uma instituição do underground norte-americano, os Spazz representaram, pelo menos, uma fascinante cosa nostra que facilmente atraía o curioso por meio de uma espiral de bizarrias e excentricidades. Ainda que a espaços sejam capazes de ser genialmente imprevisíveis (já lá vamos), incide na utilidade da banda como portal até universos paralelos (o cinema marginal da Golden Harvest, Shaw Brothers e todas as películas série-z centradas no lutador mexicano Santo) o real interesse dos Spazz. Em vez de convidados, somos empurrados em direcção à obscuridade. Aos poucos, damos conta de que grande parte dos sonhos psicadélicos de outrora permanecem armazenados nestas caves sub-culturais.

Porém e apesar dos filmes de culto que trazem à baila nos samples, não se julgue que são apenas uma banda-acessório. As duas compilações de raridades que servem de tema a esta resenha (referentes aos períodos 93-96 e 95-9 firmam a reputação dos Spazz como excelentes executantes de hardcore ("Mighty Morphin Power Violence" esclarece dúvidas), além de garantirem uma diversidade inclassificável como ponto assente: seja através do banjo que assenta que nem luva a "Spudboy", versões completamente adulteradas dos Dead Kennedys ou 7 Seconds, o apocalipse fulminante de "A Prayer for the Complete and Utter Eradication of All Generic Pop-Punk" (que no seu título revela o maior ódio dos Spazz) ou o stoner que ocupa "Gnome Servant" (os seus 4 minutos de duração fazem dela um épico). Surpresas à parte, sobram mais de 100 ataques frontais hardcore prontos a serem usados como anfetaminas para compilações ou para retaliar algum vizinho com mau gosto musical (alguém que ainda se atreva a ouvir Simple Minds....).

Os Spazz são o aluno mais burro da escola de rock matemático. Sim, o trio venera Satanás e o Chupa-Cabras, da mesma forma que deseja a morte a todo o artista que um dia se tenha atrevido a ensaiar um esboço de melodia que fosse. Porém, e acima de quaisquer suspeitas, os Spazz pareciam empenhados, através de um contínuo arremesso de pedradas, fazer com que não sobrasse uma gota que fosse no charco de convenções. Fui curto e grosso perante dois discos que armazenam 131 faixas? Nem tão pouco conheço outra forma de abordar a música dos Spazz.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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