DISCOS
Object
Pandemic
· 20 Jan 2005 · 08:00 ·
Object
Pandemic
2003
Quatermass


Sítios oficiais:
- Quatermass
Object
Pandemic
2003
Quatermass


Sítios oficiais:
- Quatermass
Costuma dizer um primo meu que, a cada vez que revê um dos capítulos da saga Guerra das Estrelas, encontra uma nova figura que até aí desconhecia. Pelos meus cálculos, o mais devoto dos crentes que conheço terá percorrido a trilogia original pelo menos 150 vezes (número modesto, acreditem), e ainda hoje vai descobrindo - seja na Cantina ou em Alderaan - novas criaturas no universo de George Lucas. Fiquem pois a saber que a abundância de bichos serve apenas um propósito: acrescentar diversidade às linhas de brinquedos e figuras coleccionáveis da Guerra das E$trela$, cujas vendas revertem directamente para o fundo de maneio do Rancho Skywalker e colecção de camisas de flanela pertencentes a George Lucas. Por esta altura já suspeita o leitor que Pandemic seja o segundo termo da analogia. Correcto. O disco na marquesa é, de facto, comparável a qualquer um dos episódios: pela forma como revela os seus segredos em regime conta-gotas, através da subtileza que transparece a cada vez que as peças do cubo de Rubik se movem.

Sem grandes alaridos, o multi-facetado e prolífico Lawrence English - que aqui surge sob o desígnio de Object - vai dando forma a um corpo de trabalho que não tardará a conferir-lhe o merecido estatuto de autor. A multiplicidade de métodos que tem explorado nos seus discos (o contraste macro/micro de Ghost Towns e a guitarra à lupa em Happiness Will Befall) contribui a favor de uma polivalência que permite a Lawrence dissecar o hip hop e os elementos que o circundam como se estivesse capacitado de oito braços de Shiva vocacionados para a prática. Numa primeira incursão enquanto Object, Lawrence subverte o ritmo e groove (enquanto fracções do hip hop) aos métodos do seu laboratório experimental, onde cada elemento é microscopicamente analisado à luz do Esperanto de Electrónicas que o mago australiano criou para a ocasião.

Pandemic invoca o hip hop apenas quando necessário e como agente de uma consumação antecipada. Até que essa se suceda, Object ensaia, em contenção tântrica, o ritmo e o groove como vias de acesso à intervenção do MC (Quro, neste caso). O disco em causa podia naturalmente preencher o lugar de elo perdido entre um Tricky mais introspectivo e os primeiros passos dos Dälek. Insira-se esse elo num universo ritmicamente cinético que cruze o código samurai de Ghost Dog (filmado por Jim Jarmusch) e a urbanidade de Ghost in the Shell, e a fusão não deve distar do ambiente proporcionado pelo disco.

Pandemic cumpre o devido tempo no betão de cepticismos, para, assim que lhe é reconhecida a universalidade (o título revela isso mesmo), ganhar asas e voar radiante, pois não é todos os dias que um manifesto hip hop acrescenta novas coordenadas ao género.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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