DISCOS
Zane Trow
For those who hear actual voices
· 08 Dez 2004 · 08:00 ·

Zane Trow
For those who hear actual voices
2004
Room 40
Sítios oficiais:
- Room 40
For those who hear actual voices
2004
Room 40
Sítios oficiais:
- Room 40

Zane Trow
For those who hear actual voices
2004
Room 40
Sítios oficiais:
- Room 40
For those who hear actual voices
2004
Room 40
Sítios oficiais:
- Room 40
Por aqui ausculta-se música susceptível aos efeitos da erosão. Uma paisagem etérea (podia até ser o Parque dos Poetas em Oeiras, não fosse o seu artificialismo) não encontra forma de escapar aos efeitos de uma Natureza que lhe é própria. Porque palavras leva-as os vento e relevo sonoro alisa-o o eco. Zane Trow projecta o seu árido manto de innuendos ecologistas numa sonoridade IMAX cuja descodificação está a meia-dúzia de audições.
É pela mão do vizinho Lawrence English - músico e mentor da altamente recomendável Room 40 - que o veterano Zane Trow vê For those who hear actual voices chegar ao mercado. Formou-se um "lobby" australiano cuja maior ambição é produzir música que sirva de suporte à arte ou que a represente por si mesmo. Não é por isso de estranhar que substancial parte dos concertos de Trow ocorram em galerias de arte e outros espaços menos convencionais. Nas suas apresentações ao vivo, For those... é intercalado com "samples" de vozes. No sossego da escuta solitária, a inserção de vozes cabe a quem assimila e imagina.
Após os primeiros contactos, fica a ideia de que For those who hear actual voices é bem mais diversificado que grande parte dos discos afectivos ao "ambient". Percorre com naturalidade uma abrangente variedade de texturas servidas de forma a causar dormência aos sentidos. O pêndulo oscila entre o grito de socorro aborígene ("Synmooning") e a vertigem lunar ("Louder Sleep"). Nada acontece por acaso, tal como nada se restringe a um formato. A romaria prossegue na certeza de que as escassas porções de vegetação silvestre que florescem no deserto são, ao fim e ao cabo, a esperança que ainda resta a uma Austrália rural.
Há alturas em que For those... parece prestes a explodir num "beat" obeso (tal nunca acontece), em contraste com aquelas em o retiro silencioso pode surgir a qualquer momento. Apesar de linearmente contínuo, o mosaico dá provas de imprevisibilidade nas suas subtis bifurcações. É Zane Trow que comanda este autobahn transmutável ao longo dos carris. Fá-lo com a excelência de quem domina a linguagem da música e do cinema (escute-se Ennio Morricone em surdina na faixa "Thnth"). "Cinematicamente" falando, For those who hear actual voices seria a Los Angeles de "Blade Runner" coberta de feno ou a Tokyo de "Akira" muito tempo antes de alguém recear o holocausto.
Exponham-se agora um par de casos isolados à lupa. "Maral" - em plena fase intermédia - reaviva memórias pertencentes a "Deep Blue Day" de Brian Eno (não viesse ele à baila...) e a um Renton que nada até à superfície de uma sanita alucinada. Surge a serenidade transbordante de "Thirtithri" e o disco alcança finalmente a anti-gravidade onde tudo passa a obedecer a um HAL-9000 que adora longas caminhadas e piqueniques no jardim.
For those who hear actual voices é de tal forma propício à meditação que não estranhe o leitor se lhe ocorrerem visões de Pat Morita em posição de lótus. O céu de baunilha é o limite.
Miguel ArsénioÉ pela mão do vizinho Lawrence English - músico e mentor da altamente recomendável Room 40 - que o veterano Zane Trow vê For those who hear actual voices chegar ao mercado. Formou-se um "lobby" australiano cuja maior ambição é produzir música que sirva de suporte à arte ou que a represente por si mesmo. Não é por isso de estranhar que substancial parte dos concertos de Trow ocorram em galerias de arte e outros espaços menos convencionais. Nas suas apresentações ao vivo, For those... é intercalado com "samples" de vozes. No sossego da escuta solitária, a inserção de vozes cabe a quem assimila e imagina.
Após os primeiros contactos, fica a ideia de que For those who hear actual voices é bem mais diversificado que grande parte dos discos afectivos ao "ambient". Percorre com naturalidade uma abrangente variedade de texturas servidas de forma a causar dormência aos sentidos. O pêndulo oscila entre o grito de socorro aborígene ("Synmooning") e a vertigem lunar ("Louder Sleep"). Nada acontece por acaso, tal como nada se restringe a um formato. A romaria prossegue na certeza de que as escassas porções de vegetação silvestre que florescem no deserto são, ao fim e ao cabo, a esperança que ainda resta a uma Austrália rural.
Há alturas em que For those... parece prestes a explodir num "beat" obeso (tal nunca acontece), em contraste com aquelas em o retiro silencioso pode surgir a qualquer momento. Apesar de linearmente contínuo, o mosaico dá provas de imprevisibilidade nas suas subtis bifurcações. É Zane Trow que comanda este autobahn transmutável ao longo dos carris. Fá-lo com a excelência de quem domina a linguagem da música e do cinema (escute-se Ennio Morricone em surdina na faixa "Thnth"). "Cinematicamente" falando, For those who hear actual voices seria a Los Angeles de "Blade Runner" coberta de feno ou a Tokyo de "Akira" muito tempo antes de alguém recear o holocausto.
Exponham-se agora um par de casos isolados à lupa. "Maral" - em plena fase intermédia - reaviva memórias pertencentes a "Deep Blue Day" de Brian Eno (não viesse ele à baila...) e a um Renton que nada até à superfície de uma sanita alucinada. Surge a serenidade transbordante de "Thirtithri" e o disco alcança finalmente a anti-gravidade onde tudo passa a obedecer a um HAL-9000 que adora longas caminhadas e piqueniques no jardim.
For those who hear actual voices é de tal forma propício à meditação que não estranhe o leitor se lhe ocorrerem visões de Pat Morita em posição de lótus. O céu de baunilha é o limite.
migarsenio@yahoo.com
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