DISCOS
Jimmy Eat World
Futures
· 05 Nov 2004 · 08:00 ·
Jimmy Eat World
Futures
2004
Interscope


Sítios oficiais:
- Jimmy Eat World
- Interscope
Jimmy Eat World
Futures
2004
Interscope


Sítios oficiais:
- Jimmy Eat World
- Interscope
O modo de estar norte-americano faz com que qualquer votação de grande escala se converta invariavelmente num concurso de popularidade. É escusado chorar sobre Ohio, pois é sabido que Bush venceu só porque o carisma do seu adversário é totalmente nulo, além de a sua pinta muito se assemelhar à de um bancário corrupto. O povão prefere os "cowboys" e as mulheres de porte Denise Richards, quando se trata de eleger a Miss Estadual. Aos Jimmy Eat World resta apenas sorrir, pois a faixa de Miss Simpatia é a única a que podem aspirar.

Ainda assim, misturá-los com a farinha de um mesmo saco "radio-friendly" significa remeter Bleed American (renomeado Jimmy Eat World, após o 11 de Setembro) a um esquecimento desmerecido. Seria redutor não ter em conta a sua inesgotável frescura, mão cheia de hábeis brilharetes pop e o "feeling" distinto inspirado pela produção de Mark Trombino. O novo trabalho dos Jimmy Eat World merecia o benefício da dúvida, nem que fosse por serem eles os autores do mencionado Bleed American, que, para todos os efeitos, foi bem sucedido junto da crítica e público. Os, então, mais-que-tudo da comunidade académica norte-americana viam-se obrigados, a partir dali, a preservar a base de fiéis e surpreender os escribas num só golpe. Porém, como é sabido, o mais difícil não é alcançar o topo, mas sim manter-se por lá.

Os príncipes do emo melódico chegam a arranhar a quimera que, na melhor das hipóteses, lhes permitiria superar o que agora sabemos ser virtualmente insuperável: Bleed American - o cabo dobrado por uma frota que, por não ter encontrado a melhor forma de responder às expectativas, arrisca-se a encaminhar-se, de vento em popa, para uma ilha sobrepovoada, onde habitam todas as bandas de que ninguém quer saber (caso dos Counting Crows ou Insane Clown Posse). A via adoptada pela banda levou a que as estruturas fossem revistas (e revisitadas) e aumentadas. É de lamentar que Jim Adkins se tenha esquecido de dar manutenção à criatividade. Futures é um menu "Super size" acompanhado por três sundaes de suspiro.

Progredir não significa necessariamente inovar, da mesma forma que uma banda pode apresentar margem de progresso, ainda que escassos sinais de inspiração. Sobreponha-se a lógica da geometria ao disco na mesa: a turma Jimmy tem progredido de disco para disco, desta vez reformula em vez de inovar e a inspiração escapou-se à velocidade do papa-léguas. Pois aqui temos um triângulo algo trôpego, mais açucarado que suado, com um pé no coito e outro no progressivo versão-peluche. Atacadores amarrados por um letal hesitar entre o hino centrado no "riff" (e, nesta área, acertam na "mouche" a cada tiro) e o choradinho que nem as melhores cebolas provocam. Futures corre gloriosamente pelo tartan de "power-pop", para, a cada vez que Adkins se lembra de dar voz à sua melancolia ou Liz Phair (ela que substituiu Rachel Haden) de abrir a boca, se espalhar ao comprido no tapete olímpico.

O mundo que Jimmy comeu é agora vomitado. Entre a bílis e toda aquela papa são distinguíveis pedaços de carne que o ouvido não conseguiu digerir, porque consumidos em conjunto com puré de caramelo (não encontro melhor forma de classificar "Drugs For Me"). Tivesse sido servido em forma de aperitivo (sem lamechices) e neste momento estaria a palitar os dentes. Assim, desespero pelo próximo digestivo rock que me livre a barriga de misérias.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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