DISCOS
Blues Explosion
Damage
· 03 Out 2004 · 08:00 ·
Blues Explosion
Damage
2004
Sanctuary
Sítios oficiais:
- Sanctuary
Damage
2004
Sanctuary
Sítios oficiais:
- Sanctuary
Blues Explosion
Damage
2004
Sanctuary
Sítios oficiais:
- Sanctuary
Damage
2004
Sanctuary
Sítios oficiais:
- Sanctuary
Urge reclamar por tempo de antena no canal Canção Nova para Mr. Jon Spencer, o frenético evangelista dessa religião que conta com mais crentes que os Amish e Mormon juntos: o rock n' roll. O bicho raspa as patas no chão para que o leigo apelide a marcação territorial de "libertação de reflexos contidos", mal sabendo que o animal de palco já conta com muitos quilómetros de estrada nas pernas e lembrou-se de que o rock deve servir-se ensopado em suor muito antes de pelo menos metade dos "The's" que por aà brotam como cogumelos.
Em concerto, a Blues Explosion jamais oferece menos que um electrizante desfile de rock ao cubo (multiplicado pela fusão com o blues, estilhaços pilhados ao hip-hop e tudo o mais que possa alimentar a explosão). Tal como a Beck (ele que até já colaborou com a BX), também a Jon Spencer o traje de Robin Hood da música assenta que nem uma luva; pela forma como deita a mão a uma herança rica em diamantinos grooves prontos a serem repescados e oferecidos de bandeja a uma nova geração de devotos. Ainda assim, a garantia de uma performance inesquecÃvel (como aquela a que Paredes de Coura assistiu este ano) e a revalidação por meio de uma hábil reciclagem não assegura aos três globe trotters o estatuto de intocáveis.
Antes de mais, duas mudanças assinaláveis: a ruptura com a editora de longa data - a Matador - e a designação abreviada para Blues Explosion - a reforçar a noção de colectivo. Burocracias à parte, já vinha sendo muita a saliva acumulada perante o rol de colaboradores anunciados há uns meses. Era sabido que convidados tão ilustres como Chuck D ou Martina Topley-Bird (a musa que em tempos foi alma gémea de Tricky) viriam a contribuir com vocalizações, enquanto os não menos ilutres DJ Shadow ou Dan "The Automator" assegurariam a produção de determinadas músicas. Damage confirmou todas estas presenças, deixando inteligentemente de fora preciosas gravações que contaram com a participação do falecido Elliott Smith. Entretanto, Jon Spencer já assegurou que, mais tarde ou mais cedo, o resultado dessas sessões acabará por ser comercializado (se não chegar ao Soulseek antes disso).
Está visto que é um disco de transição, e, nesse aspecto, cumpre plenamente. No sentido inverso, peca pela ausência de coesão e pizzazz. Ainda que malhas como "Burn it Off" e "Mars, Arizona" sejam dignas de aspirar a presença em antologia, a sensação que fica é a de um disco que margem alguma acrescentou à fasquia. Sumariza, soma e segue manco. Será necessária uma empatia à prova de bala para perdoar à Blues Explosion a incessante repetição dos seus tiques. O duelo entre os aspectos positivos e negativos termina empatado por K.O. técnico. Este não é certamente o álbum que se esperava da Blues Explosion, mas será aquele que, de forma mais convincente, triunfa pela imprevisibilidade. O monolÃtico rock Plastic Fang jamais faria prever tão eclética mirÃade de variantes moldadas a partir da mesma matriz. Preparem-se para ver a bússola baralhar as voltas aos ponteiros à medida que o milhafre circunda o lounge desértico de "Spoiled" ou por altura de "Rattling" - o quase tribal delÃrio de saloon que faltou à banda-sonora de Aberto até de Madrugada.
Damage oferece duas mãos cheias de soluções à estagnação de uma fórmula que para isso parece caminhar desde ACME. O espaço ocupado pelas "soluções" retira perÃcia à mão armada - a qual falha, de forma desajeitada, os alvos de eficácia por um triz. Nada-se por entre este mar de chamas com substancial agrado, mas não há riff sobejamente afiado para que valha a pena morder o isco. Danos irreversÃveis sofridos por uma surpreendente carreira que, aos poucos, se vai desmoronando.
Miguel ArsénioEm concerto, a Blues Explosion jamais oferece menos que um electrizante desfile de rock ao cubo (multiplicado pela fusão com o blues, estilhaços pilhados ao hip-hop e tudo o mais que possa alimentar a explosão). Tal como a Beck (ele que até já colaborou com a BX), também a Jon Spencer o traje de Robin Hood da música assenta que nem uma luva; pela forma como deita a mão a uma herança rica em diamantinos grooves prontos a serem repescados e oferecidos de bandeja a uma nova geração de devotos. Ainda assim, a garantia de uma performance inesquecÃvel (como aquela a que Paredes de Coura assistiu este ano) e a revalidação por meio de uma hábil reciclagem não assegura aos três globe trotters o estatuto de intocáveis.
Antes de mais, duas mudanças assinaláveis: a ruptura com a editora de longa data - a Matador - e a designação abreviada para Blues Explosion - a reforçar a noção de colectivo. Burocracias à parte, já vinha sendo muita a saliva acumulada perante o rol de colaboradores anunciados há uns meses. Era sabido que convidados tão ilustres como Chuck D ou Martina Topley-Bird (a musa que em tempos foi alma gémea de Tricky) viriam a contribuir com vocalizações, enquanto os não menos ilutres DJ Shadow ou Dan "The Automator" assegurariam a produção de determinadas músicas. Damage confirmou todas estas presenças, deixando inteligentemente de fora preciosas gravações que contaram com a participação do falecido Elliott Smith. Entretanto, Jon Spencer já assegurou que, mais tarde ou mais cedo, o resultado dessas sessões acabará por ser comercializado (se não chegar ao Soulseek antes disso).
Está visto que é um disco de transição, e, nesse aspecto, cumpre plenamente. No sentido inverso, peca pela ausência de coesão e pizzazz. Ainda que malhas como "Burn it Off" e "Mars, Arizona" sejam dignas de aspirar a presença em antologia, a sensação que fica é a de um disco que margem alguma acrescentou à fasquia. Sumariza, soma e segue manco. Será necessária uma empatia à prova de bala para perdoar à Blues Explosion a incessante repetição dos seus tiques. O duelo entre os aspectos positivos e negativos termina empatado por K.O. técnico. Este não é certamente o álbum que se esperava da Blues Explosion, mas será aquele que, de forma mais convincente, triunfa pela imprevisibilidade. O monolÃtico rock Plastic Fang jamais faria prever tão eclética mirÃade de variantes moldadas a partir da mesma matriz. Preparem-se para ver a bússola baralhar as voltas aos ponteiros à medida que o milhafre circunda o lounge desértico de "Spoiled" ou por altura de "Rattling" - o quase tribal delÃrio de saloon que faltou à banda-sonora de Aberto até de Madrugada.
Damage oferece duas mãos cheias de soluções à estagnação de uma fórmula que para isso parece caminhar desde ACME. O espaço ocupado pelas "soluções" retira perÃcia à mão armada - a qual falha, de forma desajeitada, os alvos de eficácia por um triz. Nada-se por entre este mar de chamas com substancial agrado, mas não há riff sobejamente afiado para que valha a pena morder o isco. Danos irreversÃveis sofridos por uma surpreendente carreira que, aos poucos, se vai desmoronando.
migarsenio@yahoo.com
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