DISCOS
The Music
Welcome to the North
· 29 Set 2004 · 08:00 ·
The Music
Welcome to the North
2004
Capitol


Sítios oficiais:
- The Music
- Capitol
The Music
Welcome to the North
2004
Capitol


Sítios oficiais:
- The Music
- Capitol
Quem assiste regularmente a transmissões desportivas já terá, decerto, observado um ou mais jogos em que um atleta se destaca na primeira parte, para perder fôlego na segunda, obrigando à sua substituição. Por outro lado, decerto existirá, entre os leitores desta prosa, quem já tenha passado por concertos cujos inícios muito prometeram, e que acabaram em longas modorras. Se, mesmo com o aviso aqui firmado, a reacção à faixa de abertura/faixa-título de Welcome to the North for de delírio, não há que ter qualquer sentimento de culpa. A verdade é que a dita faixa é um prolongamento de tudo o que tinha feito do primeiro álbum dos ingleses liderados por Robert Harvey uma estreia tão especial. Um riff excelente, propulsivo, apontado às camadas superiores da estratosfera, e Harvey, na sua característica voz, a soar poderosíssimo, galopante, groovy.

A elasticidade ao nível das melhores fisgas e bolas saltitonas mantém-se viva em “Freedom Fighters”, primeiro single do álbum. Carregando na tecla rock, e com um efeito no refrão a remeter para os Stone Roses, ou mesmo para Ian Brown a solo, promete fazer furor entre os mais adeptos à dança dentro do campo onde a banda se movimenta. E se “Bleed From Within” abre com uma letra muito U2 (“shot rings out”), atinge adequadamente os seus propósitos épicos, não só por ultrapassar os seis minutos. Harvey mostra-se adepto de scat vocal, o baixo cria uma rampa de lançamento perfeita, e um falso acalmar dá azo a uma despedida em conformidade com o que veio antes. O scat continua em “Breakin”, onde os Happy Mondays vêm juntar-se aos Stone Roses no refrão, e o tom vai de um início bastante rockeiro para um baixo mais funky a meio da canção.

As previsões, chegados a este ponto, teriam todo o direito de apontar para um magnífico álbum dos The Music. Os primeiros sinais de desagregação do mundo erguido até agora surgem em “Fight The Feeling”. A meio caminho entre os Coldplay e uma power-ballad em que os coros e os riffs não ajudam, aponta logo para um dos sintomas mais graves na encarnação 2004 da banda. Chega a parecer que andaram a ouvir hard-rock demais, e não do bom. “Guide” poderia roçar a rudeza de “Definitely Maybe”, dos Oasis, e seu fetiche por The Beatles, não fosse, pura e simplesmente, não estar à altura do desafio.

Não se imaginava os The Music a soarem tão pedestres, mas é exactamente esse o efeito que a segunda metade de Welcome to the North causa. Não se tratará de meras influências, e talvez eles não tenham passado a ouvir certas coisas. Isso não impede, todavia, que “Into The Night” soe a uma foleirada qualquer dos eighties, à qual a letra não ajuda em nada. As esperanças retornam esporadicamente - “I Need Love” tem novo refrão-Roses, onde parece fraquejar em relação ao que a banda é capaz, “One Way In, No Way Out” começa com um riff promissor, perdendo-se num sub-produto de U2. Pior ainda, volta a atingir o ponto de saturação hard-rock algures a meio. Desafio – fazer pior. Conseguiram. “Open Your Mind”, para além de jangles acústicos que lembram James, atinge o patamar da azeiteirice no refrão.

Ambição? Desistência? Erro casual? Novos fãs? Tudo isto é possível. Afinal, trata-se de uma opinião de quem está de fora, e Welcome to the North, sem dúvida, causa questões desta estirpe. Seria bom é que elas viessem após um álbum à altura, e não de algo com tanto de chocante, no mau sentido.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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