DISCOS
Think Twice
Unemployed
· 14 Set 2004 · 08:00 ·
Think Twice
Unemployed
2004
Fcom


Sítios oficiais:
- Fcom
Think Twice
Unemployed
2004
Fcom


Sítios oficiais:
- Fcom
Devemos apontar o dedo aos Velvet Revolver pelo facto de terem lançado um disco sob o oculto pretexto de angariar fundos para o sustento de um hábito (o de Weiland, principalmente)? Há como culpar Peter Machado pelo kitsch da sua electrónica supra-ingénua? E será possível censurar um francês por não cumprir a pontualidade britânica? Neste caso parece-me que sim. O comboio da vaga pós-punk ainda tem lugar para os últimos passageiros, mas os Think Twice trouxeram um desmazelado cartão de visita em vez do passe.
Depois do devido processo de aprendizagem dividido entre o DJing generalista e as incursões pelo house, eis que os rapazes (cujo nome preferem manter no anonimato) veêm ser-lhes concedida uma oportunidade de estágio pela Fcom, instituição que tem vindo a dar bom rumo a promessas da electrónica Made in Europe (vide Llorca ou St. Germain). Os instrumentos de trabalho resumem-se a um computador, voz e baixo. Lá está, mais uma vez o baixo a revelar-se como a muleta indispensável ao género. A fragilidade que pode advir desta dependência é ainda mais evidente na música dos Think Twice, que padecem de ideias frescas para ocultar este calcanhar de Aquiles. A esfera de espelhos não pára de rodar, porém, parece-me que há quem já dance por frete. O facto de se tratar de um mini-álbum poderá significar que estamos perante o tubo de ensaio do qual, em breve, surgirá o esperado longa-duração. A verdade é que, doa a quem doer, há muita volta a dar aos traços deste rascunho para que os Think Twice se façam notar entre a constelação de bandas que fazem do pós-punk bandeira.

Mas não desespere, caro leitor. Além do potente single ("Under the Bombs") digno de aspirar a alta rotação, abunda por aqui matéria, no pior dos casos, curiosa, nem que seja pela forma como se esquiva à banalidade. "Sluts" ganha com o efeito surpresa provocado pela transição do inglês para francês (língua materna dos Think Twice). "Analyse me" é um manifesto anti-psicanálise, onde se reivindica o direito à livre sexualidade por meio de um fundo sonoro Depeche Modiano devidamente acelerado. Como grande parte das faixas, possui-nos aos primeiros segundos para se tornar maçadora no momento em que o 1 ocupa o segundo dígito da sua duração. A coroar toda esta bizarria, "Unemployed" é um hino repleto de ironia e humor que assentaria como uma luva a um qualquer Direito de Antena da CGTP. Resta saber se o próprio Carvalho da Silva pensaria duas vezes antes de se render à dança entre os militantes do partido. O trôpego disco descamba assim que damos conta de fraquezas ocultas à partida: o registo vocal assemelha-se demasiadamente ao de Tricky (em determinadas partes) e à medida que a sua duração avança, intensifica-se também a sensação de que todas as faixas que não a primeira (a cereja no topo do bolo amargo) estão lá para fazer companhia e preencher a duração certa para que Unemployed seja mais que um single. Fico sem saber se era suposto "3 mn of Silence" ter graça e sem explicação para a existência da inócua faixa não-tão-escondida. Culpem Bob Pollard (senhor e mentor dos Guided by Voices) por ter inspirado uma geração de músicos que prefere encher chouriços com detritos a deixar espaços em vazio.

Bem vistas as coisas, os Think Twice até são simpáticos, mas só com benévola generosidade alguém pode acreditar que por aqui haja algo de particularmente relevante. Ainda que carregado de sensualidade, pronto a ser esquecido fica um punhado de irrequietas músicas aquém das marcas mínimas para aceder às Olimpíadas da Electrónica Dançável e que dificilmente fariam parte de um set de DJ Kitten.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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