DISCOS
Murder City Devils
Thelema EP
· 10 Set 2004 · 08:00 ·
Murder City Devils
Thelema EP
2001
Sub Pop


Sítios oficiais:
- Murder City Devils
- Sub Pop
Murder City Devils
Thelema EP
2001
Sub Pop


Sítios oficiais:
- Murder City Devils
- Sub Pop
Noite de Halloween, ano da graça de 2001. Os Murder City Devils regressavam à Seattle natal para dar o último concerto da formação, dois anos mais tarde editado no disco R.I.P.. Mas, talvez a par de In Name and Blood, em cujo booklet todos os elementos dos Devils aparecem assassinados, o EP Thelema é o mais intrigante testemunho da torrente criativa de Spencer Moody e amigos.

Começaram na Die Young Stay Pretty, uma pequena editora subsidiária da Sub Pop, mas rapidamente migraram para a sede, onde trabalharam com o dinossauro Jack Endino. Para sempre fascinados com o gore, os filmes rasca de série B, películas de duvidoso enredo de um Coppola com as calças na mão - i.e., ainda em início de carreira -, e conotados com um hardcore que só é melódico depois de atestar um murro nas tripas dos ingénuos, os Devils não comprometem uma unha negra da sua integridade. Ou não o faziam porque entretanto acabaram.

Há também a herança heavy metal, o Ozzy a pairar em cada esquina, mas essa esforçamo-nos por esquecer. Falemos da coisa nestes termos: num hipotético celebrity deathmatch, os Devils rapidamente punham o Ozzy e restantes Sabbath com a cara à banda. São infinitamente maiores que qualquer metal head com problemas de integracão social. Na verdade, a atitude é bem mais de revivalismo garage do que de metal com poucos miolos e muitas correntes.

A voz de Spencer Moody é mesmo assim: moody, com picos de intensidade, por vezes a fazer lembrar um gato com cio a sacudir-se em noite de Lua cheia. É por isso surpreendente a última faixa do EP: "364 Days" é um hino de Natal, em que se presta tributo ao St. Nicholas, o tipo que está sozinho o resto do ano e a quem se deve uma sentida homenagem. Vale tanto pela ironia como pelo arrojo em pontuar um disco tão intenso e cheio de barulho, a maior parte das vezes desgovernado, com uma aproximação ao cancioneiro country, com acordeão e violinos à mistura.

Leslie Hardy, uma miúda diehard, toma conta dos teclados. Sem eles, os Devils seriam qualquer outra coisa que não isto. Fazem um melhor uso deles do que os Pleasure Forever, por exemplo, em tempos colegas de editora. Aos teclados junta-se o som seco do baixo de Derek Frudesco, especialmente descarnado em temas como "Midnight Service at the Mütter Museum" e "One Vision of May".

Aqui não há meio termo: ou se empatiza ou se odeia. Para quem gosta, resta o consolo de ir descobrindo a curta discografia dos Murder City Devils e enfiar-se de cabeça nos Pretty Girls Make Graves, projecto actual mas periclitante de Frudesco, e nos Dead Low Tide, de Moody, e que também já foram a enterrar. É como um orgasmo, é bom mas passa depressa.
Hélder Gomes
hefgomes@gmail.com

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