DISCOS
John Chantler
Monoke
· 08 Set 2004 · 08:00 ·

John Chantler
Monoke
2003
Room40
Sítios oficiais:
- Room40
Monoke
2003
Room40
Sítios oficiais:
- Room40

John Chantler
Monoke
2003
Room40
Sítios oficiais:
- Room40
Monoke
2003
Room40
Sítios oficiais:
- Room40
O que tem Monoke a ver com o rabo de Harvey Keitel? À primeira vista, nada. Com alguma capacidade de associação e a dose certa de boa fé, tudo. Afinal de contas são apenas seis os graus de separação. Sigam o raciocínio do vosso Inspector Varatojo. O facto de ter captado sons extraídos a um piano que permanece desde sempre à chuva é pretexto frequente para mais uma pergunta nas entrevistas feitas a John Chantler. O músico é australiano. Austrália que partilha o distante continente com a Nova Zelândia. Neo-zelandesa é a nacionalidade da realizadora Jane Campion, que, por sua vez, alcançou a notoriedade com o aclamado filme O Piano (também esse passa muito tempo à chuva). O Piano que facultou um bizarro culto em torno do rabo de Harvey Keitel entre as divorciadas com mais de 40 anos. Entendido?
Ainda que já conte com um segundo lançamento (Locked in Heads) na sempre vanguardista Piehead Records, importa recuar um ano para celebrar este debut que, além de apresentar um benjamim com elevado potencial, documenta a boa saúde de que vai gozando a electrónica (a que a multi-facetada Room 40 vem servindo de impulsionadora) praticada pelo continente australiano mais conhecido pela sua fauna distinta e milagres da natureza como Kylie Minogue.
Consta que para conceber o disco em análise John Chantler sorveu grande parte da sua inspiração ao período que passou na ilha de Shikoky (no sul do Japão), onde leccionou aulas de Inglês durante dois anos. Sem que isso seja demasiadamente transparente a partir da sua audição, é de facto perceptível a edificação de uma base conceptual a partir das experiências acumuladas na ilha nipónica. As diferentes ambiências que envolvem cada faixa não são mais que ramificações de um mesmo sentimento pessoal de alguém que projecta a informação sensorial na sua música.
Não é de admirar que, actualmente, Chantler cite o Animal Collective como uma das suas principais influências, pois ambos aspiram a expor, de forma semelhante, o encanto que advém do natural decorrer do quotidiano. O Animal Collective fá-lo pela via do misticismo, enquanto que o músico australiano opta por difundir as páginas do seu diário na ambivalência ambiental das suas composições. À flor da pele (e do disco) permanecem expostos de forma abstracta os prazeres terrenos de uma noite passada a sake ou o tédio de um dia mais chuvoso.
Perder a noção do tempo em Mononoke é como flutuar à superfície de um mar habitado por tubarões. A serenidade das programações - paredes-meias com as suas texturas acústicas - impede-nos de ceder ao pânico. Abunda por aqui uma electrónica balsâmica e terapêutica. Escute-se "Slow Closure" e é ver sarar quaisquer cicatrizes que ainda restem após os 40 minutos de escuta. O equilíbrio, que a isso permite, resulta de uma climatização de emoções que não deixa escapar qualquer decibel que ultrapasse a linha de água. Por aqui tudo flui. Desconfio que James Cameron tinha em sua posse um bootleg de Monoke quando criou as criaturas aquáticas para o seu projecto pessoal semi-fracassado: O Abismo.
As pérolas são tantas quantas as bolas do Dragão protegidas por Songoku e seus amigos. Entre as quais, "Play Play" - perdida entre a componente lúdica da sua batida e um Oceano Pacífico sem memória. De forma discreta, "Personal Rock" solta um dragão fumegante que nos envolve no hipnotismo dos metais para abrir mão de sua presa apenas no esparso final da faixa. "Vendor" tem tudo para fazer parte da banda-sonora de um filme de espionagem submarina (esse subgénero eternamente amaldiçoado) rodado em águas islandesas (Chantler já abriu concertos para os Múm).
A sua condição dinâmica e consequente profusão de beats estelares fazem crer que estamos a assistir à convincente demonstração de um novo Midas da electrónica que, através da saturação de sons, molda a sua substância líquida até esta se evaporar no manto ambiental. Lentamente, Chantler é a luz vermelha intermitente que se vai aproximando do centro do radar da música. A manter na mira do periscópio.
Miguel ArsénioAinda que já conte com um segundo lançamento (Locked in Heads) na sempre vanguardista Piehead Records, importa recuar um ano para celebrar este debut que, além de apresentar um benjamim com elevado potencial, documenta a boa saúde de que vai gozando a electrónica (a que a multi-facetada Room 40 vem servindo de impulsionadora) praticada pelo continente australiano mais conhecido pela sua fauna distinta e milagres da natureza como Kylie Minogue.
Consta que para conceber o disco em análise John Chantler sorveu grande parte da sua inspiração ao período que passou na ilha de Shikoky (no sul do Japão), onde leccionou aulas de Inglês durante dois anos. Sem que isso seja demasiadamente transparente a partir da sua audição, é de facto perceptível a edificação de uma base conceptual a partir das experiências acumuladas na ilha nipónica. As diferentes ambiências que envolvem cada faixa não são mais que ramificações de um mesmo sentimento pessoal de alguém que projecta a informação sensorial na sua música.
Não é de admirar que, actualmente, Chantler cite o Animal Collective como uma das suas principais influências, pois ambos aspiram a expor, de forma semelhante, o encanto que advém do natural decorrer do quotidiano. O Animal Collective fá-lo pela via do misticismo, enquanto que o músico australiano opta por difundir as páginas do seu diário na ambivalência ambiental das suas composições. À flor da pele (e do disco) permanecem expostos de forma abstracta os prazeres terrenos de uma noite passada a sake ou o tédio de um dia mais chuvoso.
Perder a noção do tempo em Mononoke é como flutuar à superfície de um mar habitado por tubarões. A serenidade das programações - paredes-meias com as suas texturas acústicas - impede-nos de ceder ao pânico. Abunda por aqui uma electrónica balsâmica e terapêutica. Escute-se "Slow Closure" e é ver sarar quaisquer cicatrizes que ainda restem após os 40 minutos de escuta. O equilíbrio, que a isso permite, resulta de uma climatização de emoções que não deixa escapar qualquer decibel que ultrapasse a linha de água. Por aqui tudo flui. Desconfio que James Cameron tinha em sua posse um bootleg de Monoke quando criou as criaturas aquáticas para o seu projecto pessoal semi-fracassado: O Abismo.
As pérolas são tantas quantas as bolas do Dragão protegidas por Songoku e seus amigos. Entre as quais, "Play Play" - perdida entre a componente lúdica da sua batida e um Oceano Pacífico sem memória. De forma discreta, "Personal Rock" solta um dragão fumegante que nos envolve no hipnotismo dos metais para abrir mão de sua presa apenas no esparso final da faixa. "Vendor" tem tudo para fazer parte da banda-sonora de um filme de espionagem submarina (esse subgénero eternamente amaldiçoado) rodado em águas islandesas (Chantler já abriu concertos para os Múm).
A sua condição dinâmica e consequente profusão de beats estelares fazem crer que estamos a assistir à convincente demonstração de um novo Midas da electrónica que, através da saturação de sons, molda a sua substância líquida até esta se evaporar no manto ambiental. Lentamente, Chantler é a luz vermelha intermitente que se vai aproximando do centro do radar da música. A manter na mira do periscópio.
migarsenio@yahoo.com
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