DISCOS
We Sea
Basbaque
· 15 Out 2019 · 10:55 ·
We Sea
Basbaque
2019
Ed. de Autor


Sítios oficiais:
- We Sea
We Sea
Basbaque
2019
Ed. de Autor


Sítios oficiais:
- We Sea
Pasmo.
Um crítico de música é por natureza basbaque. Fascinamo-nos de imediato com as next big things, tecemos loas e reloas a álbuns, a artistas, a concertos que vivenciamos na imediatez, procuramos converter os ateus à eterna religião que é a canção nova, a sonoridade nova, a experiência nova. Tudo o que soe diferente ou fresco ou bem construído pasma. Claro que existe depois um problema: o fascínio passa e ficamos, bem, a sentirmo-nos um bocadinho idiotas.

É por isso que Basbaque, o disco de estreia dos We Sea, nunca poderia ser alvo desse tipo de avaliações. À primeira, as canções aqui contidas custam um bocadinho: ouvimo-las pela primeira vez e sentimos que em nada destoam ou, o que é pior, que a linguagem utilizada não é a conveniente à pop (tudo muito literato e sisudo na ânsia de contar uma história sobre amor; gostamos mais de la la las e da palavra coração).

Mas depois o disco cresce, se dele não desistirmos. Passamos não a ouvir, mas a ver: o eterno oceano que ladeia os micaelenses poetas e românticos, o mesmo que nos tornou basbaques naquela ida à ilha. As estradas em linha recta, rodeadas de vivendas, vacas e pescadores. As curvas na montanha onde íamos fodendo o carro alugado. As lapas, o bacalhau com polvo, a carne tenra. O imenso arvoredo junto às furnas que parecia saído de um filme da Disney.

Tudo isto misturado com synthpop esperta, melodias e pequenos pruridos electrónicos, algum funk (é ouvir as guitarras em "Mormaço"), e o início jazz que desagua em baile de verão com o qual terminamos o álbum, "Verde Seco Feito Negro", a lembrar os melhores momentos dos Clã (com letras mais pensadas). Basbaque não pasma no imediato, mas dêem-lhe tempo. Como os Açores, é uma terra da qual nunca nos esqueceremos.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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