Quem lá estava viu-o e sabe: Mortiis sobe ao palco com a sua máscara costumeira, coloca-se diante do seu sintetizador e arranca para uma hora de música cósmica e bafienta, música de corrente de aço nos pulsos e tornozelos assinalando uma vida de escravatura. Minutos depois, a debandada é geral. Não há guitarras, logo não interessa. Há quem não compreenda. Há quem ache apenas palhaçada. E há quem - porque o viu, e sabe - reconheça ali algo de refrescante e entusiasmante, fora da caixa, longe dos gostos dos normies.

Falamos de Mortiis em Barroselas mas poderíamos estar a falar do novo projecto de Miguel Béco, que largou a imponência do nome ATILA e assumiu a forma Kara Konchar, declarando guerra à usualidade. Dungeon Rave, o álbum de estreia, é música claramente a apontar às pistas; mas, ao invés de enveredar pelos caminhos do E, procurando tornar memorável a noite de alguém vestido de branco e calçando sapato de vela, o seu objectivo é esvaziar essa mesma pista. Deixando apenas aqueles que mereçam, os verdadeiros.

Ainda assim, é possível encontrar em "Necrodancer" algum eco dessa rave prometida, mesmo que esqueletal, qual danse macabre movida a ácidos e sirenes electrónicas. O resto é apenas e só um film noir techno ou uma saída de emergência, para todos aqueles que não conseguirem lidar com o incêndio. Mas há sempre quem goste de dançar sobre brasas. This is fine, já diz o meme.