DISCOS
Conjunto Ngonguenha
Ngonguenhação
· 24 Ago 2004 · 08:00 ·
Conjunto Ngonguenha
Ngonguenhação
2004
Matarroa
Sítios oficiais:
- Matarroa
Ngonguenhação
2004
Matarroa
Sítios oficiais:
- Matarroa
Conjunto Ngonguenha
Ngonguenhação
2004
Matarroa
Sítios oficiais:
- Matarroa
Ngonguenhação
2004
Matarroa
Sítios oficiais:
- Matarroa
Vermelho, negro e amarelo são as cores que compõe o arco-Ãris (e também a bandeira de Angola) cujo extremo poente conduz a um pote que, em vez do esperado ouro, contém a "deliciosa e nutritiva" Ngonguenha (mistura de farinha, açúcar e água): petisco tradicional angolano que simboliza a denúncia social (ou não fosse um disco de hip-hop), a ironia perante as condições precárias que ainda afectam o paÃs e a noção de que o sonho e a ambição ainda são capazes de converter simples ingredientes num cativante banquete de como bem transformar a limitação em virtuosismo.
Tal como acontecia no mais emblemático disco dos Queens of the Stone Age, o conceito é uma imaginária emissão radiofónica. Estabelecida a analogia, faria todo o sentido que Ngonguenhação se intitulasse Songs for the dread. O locutor da emissão farta-se de meter água (ex:"Vamos passar todas as músicas de que faz parte este conjunto."), mas isso até ajuda à festa. Nada falta a Ngonguenhação para que singre como disco de eleição em celebrações várias e tardes passadas a torrar na praia; mesmo assim, talvez não fossem necessárias as infinitas vezes que se menciona a palavra "Ngonguenha" e a duração excessiva de uma ou outra faixa.
"Ecos & Factos" é uma falsa partida, já que por sucessivas vezes quebra o "flow" de rimas com declarações de jornalistas e "spots" publicitários. É engraçado, mas espreme-se a faixa e a polpa hip-hop conta-se em poucas gotas. A Ngonguenhação começa sim na malha seguinte. Seja-lhe feita justiça, "Brinca na areia" não fica atrás do melhor que se faz no género. É daquelas músicas que nos apanha à primeira. No melhor estilo "in your face", as lÃnguas bem afiadas (incluindo a de Mc K) vão sendo perseguidas por um loop de sopro à Morphine, com uma linha de contra-baixo a embrulhar o invólucro. O triunfo maior do colectivo angolano e obrigatório em qualquer set de DJ por esta altura. Os apreciadores de animação japonesa certamente reconhecerão o "sample" pilhado à banda-sonora do apocalÃptico "Akira" que serve de base a "O fugueiro". A genialidade de Geinoh Yamashirogumi passeia por aqui. Medalha de ouro para este "sample".
"Os 4 elementos" combinados serão suficientes para que todos dancem, com direito a um cheirinho de Kuduro pelo meio. Mc K volta à carga em "Jetu-Jetu" e deixa no ar a interrogação: será apenas coincidência o facto de os dois melhores temas do disco contarem com a sua participação? Creio que só teriam a ganhar com a inclusão a tÃtulo definitivo deste quinto Mc (ou disco a solo para o benjamim, Matarroa!).
Numa altura em que o hip-hop é o El Dorado do horizonte musical lusitano, há que separar o trigo do joio. É curioso que Ngonguenhação contenha - em partes praticamente iguais - trigo da melhor colheita e dispensável joio. O longa-duração parece-me um passo maior que a perna. O formato EP teria sido perfeito. Um bom chefe de cozinha (uma produção mais exigente, entenda-se) traria uma maior eficácia na dosificação dos ingredientes que compõem esta deliciosa Ngonguenha. Fiquemos atentos a novos pitéus. Por enquanto, saliva-se.
Miguel ArsénioTal como acontecia no mais emblemático disco dos Queens of the Stone Age, o conceito é uma imaginária emissão radiofónica. Estabelecida a analogia, faria todo o sentido que Ngonguenhação se intitulasse Songs for the dread. O locutor da emissão farta-se de meter água (ex:"Vamos passar todas as músicas de que faz parte este conjunto."), mas isso até ajuda à festa. Nada falta a Ngonguenhação para que singre como disco de eleição em celebrações várias e tardes passadas a torrar na praia; mesmo assim, talvez não fossem necessárias as infinitas vezes que se menciona a palavra "Ngonguenha" e a duração excessiva de uma ou outra faixa.
"Ecos & Factos" é uma falsa partida, já que por sucessivas vezes quebra o "flow" de rimas com declarações de jornalistas e "spots" publicitários. É engraçado, mas espreme-se a faixa e a polpa hip-hop conta-se em poucas gotas. A Ngonguenhação começa sim na malha seguinte. Seja-lhe feita justiça, "Brinca na areia" não fica atrás do melhor que se faz no género. É daquelas músicas que nos apanha à primeira. No melhor estilo "in your face", as lÃnguas bem afiadas (incluindo a de Mc K) vão sendo perseguidas por um loop de sopro à Morphine, com uma linha de contra-baixo a embrulhar o invólucro. O triunfo maior do colectivo angolano e obrigatório em qualquer set de DJ por esta altura. Os apreciadores de animação japonesa certamente reconhecerão o "sample" pilhado à banda-sonora do apocalÃptico "Akira" que serve de base a "O fugueiro". A genialidade de Geinoh Yamashirogumi passeia por aqui. Medalha de ouro para este "sample".
"Os 4 elementos" combinados serão suficientes para que todos dancem, com direito a um cheirinho de Kuduro pelo meio. Mc K volta à carga em "Jetu-Jetu" e deixa no ar a interrogação: será apenas coincidência o facto de os dois melhores temas do disco contarem com a sua participação? Creio que só teriam a ganhar com a inclusão a tÃtulo definitivo deste quinto Mc (ou disco a solo para o benjamim, Matarroa!).
Numa altura em que o hip-hop é o El Dorado do horizonte musical lusitano, há que separar o trigo do joio. É curioso que Ngonguenhação contenha - em partes praticamente iguais - trigo da melhor colheita e dispensável joio. O longa-duração parece-me um passo maior que a perna. O formato EP teria sido perfeito. Um bom chefe de cozinha (uma produção mais exigente, entenda-se) traria uma maior eficácia na dosificação dos ingredientes que compõem esta deliciosa Ngonguenha. Fiquemos atentos a novos pitéus. Por enquanto, saliva-se.
migarsenio@yahoo.com
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