A memória não é uma constante. Vai aparecendo e desaparecendo, pode fazer-nos sorrir ou corar de vergonha, pode pairar, durante largos minutos, no consciente ou ausentar-se tantos outros. Mas basta um clique e eis que aquela recordação nos atormenta e estimula. Assim foi com Francisco Oliveira; o clique foi o piano da avó, estável e aparentemente inútil durante vinte anos, agora recuperado para servir de base a um disco carregado de nostalgia.

É que naquelas teclas existia um espectro: o de serões passados, o das cordas vibrando com alegria ou melancolia, o da poeira que se foi acumulando e gastando o corpo desse piano. Existia - presumimos - o espectro da avó do próprio músico, dona do objecto. Permanecerá, ao longo de escutas e escutas, a dúvida: On The Act Of Reminding pretende lembrar o piano, ou quem o utilizou no passado? E essa dúvida foi colocada pelo intérprete de forma consciente ou inconsciente?

Sabe-se lá. Mas sabe-se isto: On The Act Of Reminding é um convite que nos é feito a largar o presente e a mergulhar de corpo e alma num tempo e espaço que já não existe. O que não quer dizer que não possa voltar a existir. Talvez possamos aqui voltar e viver estas memórias como se fosse a primeira vez. Talvez, até, as tenhamos já vivido e On The Act Of Reminding não seja mais que um déjà vu preso na eternidade. Seja como for, irá sempre deixar-nos um sabor quente na boca.