O footwork é um género pária, o patinho feio dos novos géneros. Escutando-o, Chicago pobre, som de gueto, reacção obsessivo-compulsiva, funk esquizofrénico, house esdrúxulo, bass absurdo; o que dizer da impolidez, da disfuncionalidade sonora? Há vias muito, muito estreitas para entrar neste som tão mecanicamente destrambelhado. Elas têm surgido, felizmente, e muito pela mão da Planet Mu – que há muito insiste que o som tem potencial. É preciso alguma paciência, sim, para que tudo faça sentido no que à musicalidade diz respeito.

Na era em que a maioria já se conformou à ideia de que está tudo inventado, nada como a engenhosidade de um artista, a abanar o dedo indicador repetidas vezes, não, não, não, não, não, não, para lembrar que ainda há algo a fazer quando a imaginação o demanda. Kavain Space, ou RP Boo, foi um dos percursores do footwork – Classics Vol 1 editado em 2015 pela Planet Mu reúne as primeiras experiências, e "Baby Come On" é a mais distante experiência, 1997 – datada por carbono 14.

Jlin foi aventuroso e abrasivo o ano passado com Black Origami – electrónica experimental e footwork pelo meio. Foi expansão do som. Mas este ano é a vez de RP Boo mostrar a sua tese – finalmente indo além dos álbuns-antologia. I'll Tell You What! vem com espírito de manifesto. É um trabalho de depuramento, essencialmente dando sentido estético a um género demasiado neurótico. Mas não é um tratamento à base de Xanax. Não! É um ponderado tratamento soul/r&b. Por outras palavras, RP Boo arrolou poesia ao bass-base mostrando que há muito mais para além do básico. Simplesmente, nada merece ser feio para sempre.