Eu nunca me perdoaria se não fizesse aqui um trocadilho parvo envolvendo Pokémons, por isso aqui vai: Diogo Correia, à semelhança do Deoxys, é um alienígena. Criado no black metal, virou-se para a electrónica e lançou um porradão de álbuns, EPs e singles diversos através de vários monikers, o mais conhecido dos quais será, porventura, Marie Dior. Agora, adoptou Deocsis como único nom de guerre, e editou Atropelada através da editora que ajudou a fundar, a AVNL.

Não que essa mesma editora precise de fazer o que quer que seja nos próximos tempos, já que é ela a responsável pela existência de Conan Osiris - e consequentemente, por todo o burburinho que se gerou com Adoro Bolos. Mas que não se encare Atropelada como orbitando na mesma galáxia que esse maravilhoso disco; é algo diferente, mais longínquo ainda, talvez com o mesmo grau de paródia e do-not-give-a-fuckismo. Mas se o primeiro usa e abusa da voz, Deocsis prefere colocar ênfase na música (o que não quer dizer que não haja voz).

Uma música que remete para as primeiras experiências synthpop de finais dos anos 70 e inícios dos anos 80, com a mesma jovialidade e apetência para a dança, mas em modo mutante (como o Deoxys) e viciante (idem aspas, e aqui é a culpa da guitarra que também existe). As letras, essas, lembrarão sobretudo a Cafetra - coisas adolescentes e certeiras, por vezes até patetas, mas sobretudo cantaroláveis - especialmente em "Andar Ó Biqueiro". No final, acabamos todos partidos no chão; que é que nos acaba de passar por cima?