DISCOS
Blocks & Escher
Something Blue
· 07 Mai 2018 · 18:38 ·
Blocks & Escher
Something Blue
2018
Metalheadz


Sítios oficiais:
- Blocks & Escher
- Metalheadz
Blocks & Escher
Something Blue
2018
Metalheadz


Sítios oficiais:
- Blocks & Escher
- Metalheadz
Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.
Olhar hoje para o drum n’ bass é complicado e simples. Complicado porque, pós a era dourada, a segunda metade dos anos 90, que Timeless de Goldie coroou, arrancando o género do underground, democratizando-o, massificando-o, o hype enredou a música de fórmulas e maneirismos que secundarizaram a criatividade. Vieram outras modas, UK garage ou dubstep, ficando o drum n’ bass entregue a uma casta que o pilhou e banalizou.

Em anos recentes, tem havido um genuíno esforço em recuperar, por um lado, a alma do género – o indagar na génese, do pós-rave ao jungle –, por outro, devolver-lhe o espírito divagante e explorador, acutilante. E aqui entra o aspecto simples: hoje não é preciso esquadrinhar muito para constatar que algo de pertinente tem vindo a ser feito nestes últimos anos. A Metalheadz, à semelhança da Exit Records ou da Samurai Music, tem encabeçado a frente da honesta perseverança. E os resultados têm sido flagrantes.

Depois de Negative Space de Homemade Weapons ou Smoke Signals de Overlook, de Richie Brains, e já agora a antologia Samurai Music Decade (Phase 1) de Dezembro último – que além de ser uma retrospectiva das edições da editora é também uma educadora forma de perscrutar, transversalmente, os meandros que o drum n´bass tem calcorreado nos últimos oito anos –, vez agora da Metalheadz apresentar o que tem vindo a preparar de substancial.

Antes de mais, elaborar um álbum de género como o drum n’ bass é tarefa hercúlea. Não é de admirar que muitos produtores se fiquem pelo EP, e desse formato não se extraiam. Phillip Smith e Will Hansen, a dupla britânica Blocks & Escher, nesse registo começaram em 2009, e nove anos demoraram a mostrar-se em álbum. Reza que Something Blue foi idealizado em 2014, e desde esse ano foi sendo elaborado, refinado e estruturado.

Com cada peça, o seu lugar no alinhamento, a ideia de viagem, os pormenores na textura rítmica – dos perdidos maneirismos do jungle, do drum n´bass (o clássico breakbeat acelerado) ao techcore martelado em computador (sem ser estupidamente neurótico) –, as melodias simples, urbanas, atmosféricas – de pinceladas jazz convidativas ao sonho madrugada fora –, Something Blue é um mosaico repleto de integridade estética; é subtil, colorido, arejado; denota-se, à primeira, o cuidado dos autores com o produto final.

O visceral e fantasmagórico "You Ghost", por exemplo, em nenhum momento ameaça ruir o ideal por trás do título do álbum, e para o qual o som do pacifico e idílico jazz de "One Touch" parece ter nascido. Something Blue foi bem magicado durante anos a fio. O menos, supor-se-ia, estaria no refinamento hiperbólico. Nada disso. O menos acaba por residir no quão perto que está das simpáticas ambiências de Timeless. É reciclagem? Bem, Lavoisier lá dizia: na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Olhando nessa óptica, positivamente, Something Blue até acaba por ser um luminosa mutação; um passo em frente, portanto.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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