DISCOS
Susana China
Trapézio
· 12 Mar 2018 · 16:08 ·
Susana China
Trapézio
2018
Ed. de Autor
Susana China
Trapézio
2018
Ed. de Autor
Nova voz.
O panorama jazz nacional está recheado de boas vozes, sobretudo femininas. Agora acaba de surgir mais uma nova cantora que se afirma com um disco de estreia sólido. Susana China apresenta-se com um álbum onde não só afirma a sua qualidade vocal, como é ainda surpreendentemente marcado pela originalidade, onde a maioria dos temas são originais da sua própria autoria. Mais do que simples intérprete, Susana apresenta-se também como compositora.

A cantora faz-se acompanhar um grupo de jovens músicos que começa a marcar a cena jazz nacional. Na bateria está o excelente Guilherme Melo, o baterista do grupo “allstar” Home (liderado por João Barradas) e que também colabora com a L.A. Banda Larga, num novo trio com João Carreiro e Ricardo Marques e, entre outros, trabalhou com nomes grandes da nossa praça como Gonçalo Marques, Nélson Cascais, Jeffery Davis ou Pedro Moreira.

No disco participam também dois jovens músicos que se têm afirmado na cena jazz nortenha e nas edições do Carimbo Porta-Jazz: o saxofonista José Soares (Eduardo Cardinho Quinteto, Omiae Ensemble, Ensemble Super Moderne, etc.) e o contrabaixista José Carlos Barbosa (Coreto Porta-Jazz, AP Quinteto, Rui Teixeira Group, João Mortágua, etc.). O grupo completa-se com Constança Ochoa (segunda voz), Gonçalo Moreira (piano) e Guilherme Pinto (guitarra).

A voz de Susana China apresenta-se num precioso ponto de equilíbrio, entre a sobriedade, a sensibilidade e a elegância, conduzindo as canções com segurança e sem gota de exibicionismo. Exibe um óptimo nível técnico, quer na forma mais convencional a cantar as palavras (boa afinação e dicção) como também a cantar sem palavras (ouçam-se os temas “Valsa de fim de Agosto” e “Pé no degrau”) - com uma maturidade saraserpiana.

As composições originais mostram a vontade de marcar a diferença e revelam eficácia. Um dos temas centrais do disco é a terceira faixa, “Trapézio”, no início apenas com o piano em fundo, depois crescendo com o grupo. Se a maioria dos temas é original, há também um tema alheio, “Choro das Águas” de Ivan Lins, interpretado com um sotaque brasileiro delicado, pouco forçado.

Sem urgência, o disco é marcado por uma permanente tranquilidade, com a maior parte dos temas trabalhados em tempos médios. Uma das canções mais memoráveis do álbum é a faixa de despedida (“Segredos”), canção de amor abaladada com a guitarra simples a servir de tapete para a voz. Esse tema final é representativo da competência de China, cumprindo como despedida perfeita de um álbum que merece atenção e lança a cantora para a primeira divisão das cantoras jazz nacionais.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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