DISCOS
V/A
Silk To Dry The Tears
· 01 Fev 2018 · 15:00 ·
V/A
Silk To Dry The Tears
2018
100% Silk


Sítios oficiais:
- 100% Silk
V/A
Silk To Dry The Tears
2018
100% Silk


Sítios oficiais:
- 100% Silk
Uma compilação contra a tristeza.
A 2 de Dezembro de 2016, um incêndio tomou conta do Ghost Ship, um armazém em Oakland convertido num espaço artístico, durante um evento organizado pela 100% Silk, editora que tem deixado o seu carimbo em várias obras que ajudaram a moldar aquilo que, por conveniência, se tem designado como outsider house - música electrónica de dança para a geração lo-fi. O incêndio provocou a morte de 36 pessoas, entre público e artistas: Chelsea Faith Dolan, conhecida como Cherushii, e Johnny Igaz, que assinava como Nackt, foram duas das vítimas mortais.

O incidente seria considerado trágico mesmo que entre as vítimas não existisse qualquer músico mas, para um melómano, é sempre esse conhecimento que bate mais, saber que alguém criativo perdeu a vida quando ainda tinha tanto para nos dar. E um melómano irá, quase sempre, combater essa tristeza recorrendo a mais música. Será essa uma das razões principais para escutarmos Silk To Dry The Tears, compilação que reúne 31 nomes da 100% Silk e cujo título não poderia ser mais explicativo. A compilação tem como objectivo angariar fundos para a organização Safer DIY Spaces, nascida após o incêndio e cujo mote é não deixar que tais tragédias voltem a acontecer.

Silk To Dry The Tears contém quase três horas de música, sonoramente alicerçada no microgénero através do qual se tornou conhecida a 100% Silk, com muito para ouvir e descobrir. Baterá sobretudo "Der Konig 1-4", tema do falecido Nackt, aqui incluído - um house espacial que se revela um dos melhores temas do disco. Mas há também faixas de nomes que têm ultrapassado aquela ténue linha entre o nicho e o culto: Octo Octa, Maria Minerva e Golden Teacher serão talvez os mais sonantes.

Difícil será falar sobre um disco que muito provavelmente não deveria existir; afinal de contas, se o incêndio não tivesse ocorrido, estes temas não teriam sido compilados. Por outro lado, é um lembrete de que quando menos esperamos a morte pode vir-nos bater à porta - e, virtude do apoio à Safer DIY Spaces, um lembrete de que é sempre possível preveni-la. Três horas de música: do ambient techno nocturno de The Cyclist, passando pelo hedonismo quase trance de Octo Octa, pela vibe 80s de "Hot Machine" (Fast Times), pelo quase eurodance de Bobby Browser e pelo registo clássico, completo com vocais soul, de Orthographic Figure, a grande revelação de Silk To Dry The Tears. Gary Safe, James Booth ou Pharaohs também ajudarão a enxugar as lágrimas. Que isso aconteça o mais depressa possível. E que não volte a acontecer.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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