"Porquê o olho?", perguntam eles, sem especificar que olho, se o da providência, se o do furacão ou se até mesmo e brejeiramente o do cu - até porque qualquer um dos três teria lugar na música dos Why The Eye?, se os virmos como metáforas: o primeiro, pelo tribalismo e pelo holocausto sonoro oferecido a um qualquer Deus indígena e desconhecido, protegido de todos os males trazidos pelo Evangelho; o segundo, pela forma feérica e febril destas canções, metade delas com menos de dois minutos; e o terceiro porque o álbum é feito de forma quase infantil e humorística, com recurso a pedaços de qualquer coisa que esteja à mão.

É isto, essencialmente, Why The Eye?, o primeiro álbum do projecto com o mesmo nome e que reúne quatro músicos belgas escondidos por detrás de máscaras, pajés do techno e da dança em torno de uma fogueira fixa. Não que "Dombo", a primeira faixa do disco, nos deixe antever isso à partida, começando de forma lenta e quase Swansica, e recorrendo a instrumentos bem conhecidos da humanidade: guitarras. Pelo menos até decidir abandonar tudo em prol do ritmo.

Todos os outros instrumentos, ao que tudo indica, foram construídos por elementos do grupo (ou, pelo menos, parece ser isso o que se diz em alguns poucos artigos em francês) numa busca por uma sonoridade a 100% orgânica, mesmo que enraizada em algum experimentalismo mais electrónico - como os Macumbas, por exemplo, o fazem. Why The Eye? não chega muito bem a esse nível (e ter apenas 27 minutos de duração não ajuda) mas poderá servir para amenizar quaisquer sintomas de abstinência em relação ao transe (ou ao trance). E também servirá para colocar mau-olhado em alguém. Ou pelo menos deveria servir.