DISCOS
Miguel Ângelo
I think I’m going to eat dessert
· 22 Dez 2017 · 10:20 ·
Miguel Ângelo
I think I’m going to eat dessert
2017
Creative Sources


Sítios oficiais:
- Miguel Ângelo
- Creative Sources
Miguel Ângelo
I think I’m going to eat dessert
2017
Creative Sources


Sítios oficiais:
- Miguel Ângelo
- Creative Sources
Deliciosa improvisação.
Contrabaixista ligado à cena Porta-Jazz, Miguel Ângelo tem participado em alguns dos projectos mais interessantes do jazz nortenho contemporâneo, como o Ensemble Super Moderne, o quarteto MAP ou o Pedro Neves Trio (um dos melhores grupos do jazz nacional, que tem passado despercebido a quase toda a gente). Na qualidade de líder, Miguel Ângelo editou em 2013 o seu disco de estreia, Branco, e já em 2016 editou A Vida de X, momento de confirmação – ambos os discos gravados ao leme de um quarteto que inclui o saxofonista João Guimarães.

Agora, o contrabaixista aventura-se agora num projecto de contrabaixo solo. Se o formato solo já é arriscado para qualquer músico, mais ainda será para um instrumento com as características do contrabaixo, habitualmente remetido (e limitado) ao papel de acompanhamento rítmico. Não são muitos os casos de aventuras de contrabaixo a solo, e muito menos no panorama nacional. Recordamos os casos - já históricos - de Solo Pictórico de Carlos Barretto e de Single de Carlos Bica (edição da saudosa Bor Land).

Contudo, diferente das referências anteriores que tinham composições como base, este disco assenta na improvisação e na exploração. Miguel Ângelo explora os sons contrabaixo e alguns efeitos. A partir daí desenvolve temas, que vão ganhando forma, alguns mais arredondados e acessíveis, outros mais experimentais. Contudo, a música nunca soa demasiado abstracta, sente-se um permanente e apurado sentido de melodia - ouçam-se as memoráveis “Just go!” ou “Lullaby” e confira-se a capacidade daquelas cordas graves de transmitirem sentimentos.

Nas “liner notes” do disco o contrabaixista justifica o título: “I think I´m going to eat dessert refere-se ao momento após uma refeição, em que temos que decidir se comer aquele prato adicional que, embora seja dispensável em termos nutritivos, se justifica apenas pelo prazer de satisfazer a nossa necessidade de açúcar ou de sensações degustativas adicionais.” Ou seja, não havendo necessidade imperativa, trata-se de uma opção de mera gulodice. Em boa hora se decidiu pela sobremesa, porque este disco é composto por uma música rica, ampla, deliciosa.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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