Tudo começa com a delicadeza de "Onde", tributo a lugar-onde repleto de flores de cerejeira e fumo saindo de bules de chá, mesmo que não seja a terra e sim o mar a dar-lhe nome. Mas depressa ganha novos contornos, mais espaciais, viajantes, menos terrestres; é o sol a raiar sobre um corpo que flutua no vácuo. São as duas primeiras faixas de Crystalline, novo álbum de Canada Effervescent, projecto do músico francês Denis Tremblay, que navega por territórios new age com o fascínio de alguém nascido posteriormente a esses tempos mais hippie.

Crystalline é um objecto um pouco estranho. Se por um lado este tipo de música nos convida a parar tudo e relaxar, por outro a duração de metade das faixas aqui presentes (três minutos ou menos) não nos permite uma respiração tão profunda quanto a que se desejaria. Mas é para isso, talvez, que existem também temas como "Sous La Vague", cujo título indica precisamente o que esperar: uma onda de sintetizadores a lavar o ouvido interno, a surfá-lo rumo ao cérebro.

Não que os temas mais curtos não tenham o seu encanto - "L'Atoll Inexploré" atira-se de cabeça ao Caribe e à doçura de um tambor de aço -, mas é com o supracitado "Sous La Vague" e também com "Baie De La Sagesse" e "Départ Pour L'Atlas D'Eau" que encontramos a vontade de mergulhar na cabeça num álbum semelhante às águas que se encontram em inúmeras praias paradisíacas: puras e cristalinas. Só é preciso saber nadar.