Antes de se chegar até aos cLOUDDEAD, foi com a remistura de "Dayvan Cowboy", dos Boards Of Canada (presente em Trans Canada Highway), que se descobriu o talento de Odd Nosdam para criar paisagens soporíficas e alucinatórias, um hip-hop hauntológico onde cada fragmento vale mais do que a soma de todas as partes. É um pouco isso, também, que encontramos em LIF, o novo álbum do produtor norte-americano, editado pela Sound In Silence.

O loop, aqui, é significado e não significante. Um loop que seja capaz de criar, mentalmente, imagens de tempos e lugares indistintos, que serão diferentes de ouvinte para ouvinte. É assim em "MIG" e em "RAI", os dois temas que abrem o disco. Há uma pulsação mínima que nos dá a entender estarmos na presença de um corpo, mas tudo o resto é mecanizado. Pensemos num campo ciborgue onde as árvores dão frutos de metal. Ou numa memória digital, introduzida através de uma pen. Na inteligência artificial e seu dilema filosófico eterno: alguma vez será humana?

Esta toada, construída e não criada, poderá parecer estranha quando temos em conta que LIF foi gravado durante um período de três meses em que o produtor se viu no meio de um enorme período de chuva torrencial. E há chuva, bastante, nos temas que o compõem - nos loops, nos drones sintetizados, na meditação áspera a que o álbum obriga. Só não há é natureza, não na sua concepção simples. É mais humano do que humano. Dentro de algumas décadas talvez isso seja algo de bom. Para já tentemos encontrar nele um coração.