Há qualquer coisa em Lotte Kestner que nos atrai para o fundo do poço. Talvez seja a voz, carregada de uma mágoa da qual não se quer livrar. Talvez seja o piano que se escuta em "Secret Longitude", antes de entrar o verso: I'd rather go / Out into the sea alone. Porque esta é uma canção sobre o amor, mas o amor nunca bate tanto como quando é impossível; a solidão nunca é tão desejável como quando parece não haver esperança num futuro melhor; a distância nunca é tão inatingível como quando é apenas na distância que queremos estar.

Kestner arrasta-se e arrasta-nos com ela ao mesmo tempo que pede o seu contrário. Mesmo num disco instrumentalmente luminoso - as teclas e as cordas reluzem tremulamente enquanto a voz paira - é a escuridão, que aqui é sinónimo de ausência, quem pinta a manta. Uma ausência que se sente e que arrepia, como qualquer coisa etérea que se consiga vislumbrar por instantes; um fantasma, por exemplo. The light isn't on when you're gone, explica ela em "Ghosts". A tradução de Off White pode ser "esbranquiçado", "branco sujo", "quase branco" ou "creme". Mas não há aqui dentro menos do que o negro.

A angústia de Kestner guarda também a culpa; se o amor não é correspondido, é bem possível que a culpa seja apenas sua - por falta de força, por timidez? A história não é contada mas fica connosco o lamento: And i hate my arms / For not pulling you to me, espécie de subtítulo do I love you more than my life que encontramos em "Hypogirl", dos Swans. Menos paranóico, mais depressivo. Não é preciso trazer Lotte Ketsner cá para cima, para o mundo dos vivos. Atiremo-nos nós lá para baixo.