DISCOS
Dat Garcia
Maleducada
· 21 Jun 2017 · 14:52 ·

Dat Garcia
Maleducada
2017
ZZK Records
Sítios oficiais:
- Dat Garcia
- ZZK Records
Maleducada
2017
ZZK Records
Sítios oficiais:
- Dat Garcia
- ZZK Records

Dat Garcia
Maleducada
2017
ZZK Records
Sítios oficiais:
- Dat Garcia
- ZZK Records
Maleducada
2017
ZZK Records
Sítios oficiais:
- Dat Garcia
- ZZK Records
Des-pa-ci-to.
"Despacito" não foi a primeira - nem será a última - grande vitória da música latina. Primeiro, porque antes dela, e depois dela, centenas de outros artistas quebrarão barreiras, atingirão o mainstream, conseguirão penetrar um mercado dominado pelo inglês. Segundo, porque seria preciso definir, com a maior exactidão possível, o que é a "música latina". É um exercício que não se tem feito, por exemplo, com a "música portuguesa". Mas ao passo que essa se resume a um país, a outra veste-se de toda uma região, de Porto Rico à Terra do Fogo, cruzando o Atlântico até Itália. Ao mesmo tempo, dezenas de cenas regionais são esquecidas de forma a potenciar o grande género como uno... Como se todos os latinos fizessem a mesma música.
São problemas que Dat Garcia, mulher argentina com o peso de uma ditadura brutal nas costas, procura esquecer - talvez não resolver - com Maleducada, o seu álbum de estreia, editado pela ZZK, que tem estado à dianteira daquilo que um qualquer senhor de fato poderia definir como "underground latino" caso quisesse vender uns streams no Spotify. Garcia não está em cima, nem em baixo; está num lugar próprio onde a tradição do seu país se funde com a tecnologia e músicas modernas, folk das Pampas misturada com géneros tão distintos quanto o trip-hop e o drum n' bass.
O resultado é um disco que cumpre o mesmo papel que a cumbia, no seu formato digital, tem feito: dar a conhecer ao mundo a expressão de um povo sem permitir espaço à condescendência ocidental para com o "terceiro mundo", como se não existissem computadores abaixo do paralelo 38. O título não é inocente - para a Argentina ditatorial, Garcia é uma mulher mal educada que esqueceu o papel fundamental do seu género, o de ficar em casa a cuidar dos filhos enquanto o homem ganha o pão com o seu suor. Mesmo que não exista, ao longo destes 53 minutos, grande espaço para o feminismo in your face; a tribo de Garcia não é a das mulheres mas a da cultura em que cresceu.
Exemplo disto serão "Nunca Olvidarme Mi Acento", onde a artista parece explicar ao que vem, e "El Amor Me Entra En Sonidos", uma espécie de tributo à música que a ajudou a formar-se enquanto pessoa. Junte-se a isso a lânguida "Camino Sobre Piedras", o tema mais pop de Maleducada, o grito de guerra contido em "Feliz Cumpleaños" e os ritmos calorosos e dançáveis, mais as guitarras transpirando mate, e estamos na presença de um assombroso disco de estreia - que só não é maior no que à "música latina" diz respeito porque não copia os seus clichés. Mas como não estamos aqui para vender nada, fiquemo-nos pela primeira parte dessa frase.
Paulo CecílioSão problemas que Dat Garcia, mulher argentina com o peso de uma ditadura brutal nas costas, procura esquecer - talvez não resolver - com Maleducada, o seu álbum de estreia, editado pela ZZK, que tem estado à dianteira daquilo que um qualquer senhor de fato poderia definir como "underground latino" caso quisesse vender uns streams no Spotify. Garcia não está em cima, nem em baixo; está num lugar próprio onde a tradição do seu país se funde com a tecnologia e músicas modernas, folk das Pampas misturada com géneros tão distintos quanto o trip-hop e o drum n' bass.
O resultado é um disco que cumpre o mesmo papel que a cumbia, no seu formato digital, tem feito: dar a conhecer ao mundo a expressão de um povo sem permitir espaço à condescendência ocidental para com o "terceiro mundo", como se não existissem computadores abaixo do paralelo 38. O título não é inocente - para a Argentina ditatorial, Garcia é uma mulher mal educada que esqueceu o papel fundamental do seu género, o de ficar em casa a cuidar dos filhos enquanto o homem ganha o pão com o seu suor. Mesmo que não exista, ao longo destes 53 minutos, grande espaço para o feminismo in your face; a tribo de Garcia não é a das mulheres mas a da cultura em que cresceu.
Exemplo disto serão "Nunca Olvidarme Mi Acento", onde a artista parece explicar ao que vem, e "El Amor Me Entra En Sonidos", uma espécie de tributo à música que a ajudou a formar-se enquanto pessoa. Junte-se a isso a lânguida "Camino Sobre Piedras", o tema mais pop de Maleducada, o grito de guerra contido em "Feliz Cumpleaños" e os ritmos calorosos e dançáveis, mais as guitarras transpirando mate, e estamos na presença de um assombroso disco de estreia - que só não é maior no que à "música latina" diz respeito porque não copia os seus clichés. Mas como não estamos aqui para vender nada, fiquemo-nos pela primeira parte dessa frase.
pauloandrececilio@gmail.com
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