DISCOS
Lieben
Acid Luv
· 17 Mai 2017 · 15:01 ·
Lieben
Acid Luv
2017
Extended Records


Sítios oficiais:
- Extended Records
Lieben
Acid Luv
2017
Extended Records


Sítios oficiais:
- Extended Records
Lieben é amor.
De certa forma, Acid Luv não poderia começar senão com uma citação de Fernando Pessoa. Se a este último se reconhece, comummente, o título de "maior poeta português", faz sentido que um disco que se apresenta tão ambicioso e auspicioso recorra ao espírito deste para anunciar a sua presença e marcar o seu território. Assim como Pessoa é gigante, também Acid Luv - e Lieben, por arrasto - dão sinais de o querer ser. Não estamos perante uma experiência techno, mas sim de uma compilação ácida que se apresenta como uma pedrada no pantanal. Não estamos perante um álbum, mas sim um ponto de viragem...

O exagero motivará, certamente, uma forte contra-argumentação por parte de quem já percorre estas estradas há demasiado tempo, por quem já viveu tempos áureos em 1988, 1994 ou 1999, pelos fiéis da velha guarda. Mas o exagero serve um propósito: declarar o amor que existe por Acid Luv, pela sua suavidade e seus ritmos em jeito de beijo, pela mistura acid e chill que, com melodias francamente melancólicas, se posiciona como um excelente representante daquilo a que, doravante, chamaremos de portuguese touch - admitindo o início de uma "rivalidade" com outras cenas espalhadas pelo mundo.

Há, então, Fernando Pessoa em "Renascimento", como o anúncio de um novo V Império - ainda que os versos tenham sido retirados de um poema sobre a morte, o que confere ao tema um estatuto muito mais paradoxal. Há um sopro em "Metrópole", aliado ao som rasgado do acid e a um beat de início de noite, sol posto sobre a cidade. Em "Meu Amor", quase que imaginamos a história que levou até este tema, visuais apegados à mente for via dos sintetizadores, tal qual nas vibrações trance de "Terra (Reconstructed Mix)". Acid Luv é uma carta de amor a um género por vezes esquecido em detrimento da maior massa corporal possibilitada pelo techno, e é um sinal claro de que Portugal está prestes a deixar de ser um país apenas para rockeiros e rockistas. E já não era sem tempo.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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