DISCOS
V/A
Miracle Steps (Music from the Fourth World)
· 15 Mai 2017 · 12:16 ·
V/A
Miracle Steps (Music from the Fourth World)
2017
Optimo Music


Sítios oficiais:
- Optimo Music
V/A
Miracle Steps (Music from the Fourth World)
2017
Optimo Music


Sítios oficiais:
- Optimo Music
Uma ode ao abstraccionismo.
Já vai algum tempo para os mais velhos. Os mais novos nunca ouviram falar de tal conceito: a Terra tornou-se microscópica, um planeta na palma da mão, a vida num aparelho, o ser a um click de conhecimento e solução imediata. Mas houve tempos em que o imediatismo não era apreciado, e os entendimentos tardavam. Com muita felicidade no processo.

Jon Hassell, trompetista, homem inconformado no final dos anos 1970, vagueava à procura de destino determinante, uma doutrina preponderante para o espírito. Com Brian Eno, já numa senda ambientalista, ambient-music aberta ao mundo – quando o mundo ainda não se submetia à redutora etiqueta da world-music –, Hassell sujeitou a sua formação a uma realidade alternativa, ou melhor, a um entendimento alternativo: a do quarto mundo – ancestralidade e modernidade, misticismo e filosofia.

O quarto mundo granjeou os seus cidadãos. O conceito ganhou revigorado entendimento quando, nos anos 1990, um punhado de jovens formados e bem intencionados, focados em substanciar a revolução da música electrónica, usar a house ou o techno como ferramentas artísticas, assimilou o abstraccionismo. Pete Namlock ou os The Orb nunca camuflaram as suas influências: eles contribuíram pós para a ruptura do urdido tecido pop que Hassell ensaiou a partir de Fourth World Vol. 1 - Possible Musics (1980) – e que alguns acham que ele se ficou pela aventura de Dressing For Pleasure (1994).

Com a absorção do muzak clássico pela sofisticação do drone actual (do metal à electrónica), o sentido da música do mundo quase devorado pelo carimbo da world-music, a house noutros quadrantes, o techno que não se consegue livrar da absurda obsessão pelo dub e o minimal, e a pop de rua, para variar, viciada em si mesma, jamais será de considerar inoportuna a intenção de JD Twitch, da Optimo Music, com a ajuda de Fergus Clark, em querer voltar, se não à semente, à raiz da doutrina do quarto mundo.

"Miracle Steps" advém do original de Hussell, incluído no alinhamento desta antologia, tema composto para Power Spot de 1986. O nome reflecte com simplicidade a intenção da operação, que claramente não se propõe como uma homenagem, ou veneração, ao génio de Hussell, antes uma expansão inteligente de uma lição algo esquecida; no limiar, um rigoroso apelo ao estudo sem que a sessão seja academicamente fatigante.

Miracle Steps (Music from the Fourth World) abrange trinta e quatro anos de pura especulação, passos milagrosos, em que os actuais X.Y.R., Iona Fortune ou Robert Lowe convivem no alinhamento com professores (mais ou menos) reformados como David Cunningham ou Jon Hassell; o hoje e o ontem. De olhos fechados, a admirar o corpo sonoro deste disco – e Twitch e Clark não indagaram em reflexos, padrões, consequências ou coincidências –, a eternidade será o substantivo que melhor adjectiva este enorme monumento dedicado ao mundo do ser e do estar espiritual. Para velhos esquecidos, e millennials que se queiram livrar da dependência das redes negras, receita divina para a alvorada. Obrigatório.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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