DISCOS
Loyle Carner
Yesterday's Gone
· 08 Mar 2017 · 10:36 ·
Loyle Carner
Yesterday's Gone
2017
AMF Records / Virgin EMI Records


Sítios oficiais:
- Loyle Carner
- AMF Records
Loyle Carner
Yesterday's Gone
2017
AMF Records / Virgin EMI Records


Sítios oficiais:
- Loyle Carner
- AMF Records
Ele fala do mundano; e brilha num mundo de grotescas frivolidades.
Tudo é muito simples: um bom beat como veículo; sobre ele, nostalgia anos noventa – A Tribe Called Quest, Jazzmatazz ou Jurassic 5 vêm à mente –, harmonia jazz, equilíbrio soul, o flow sereno do verbo – a ponderação antes de abrir a boca; sabedoria quotidiana. E muito bom-senso. No alinhamento, na sua duração, há apenas o imprescindível: Loyle Carner não é de redundâncias – ele entende como poucos que dizer menos é sempre dizer mais. E nem precisa de elevar a voz para mostrar o menos simpático, como o ressentimento, a revolta.

Yesterday's Gone, o primeiro trabalho de longa duração, volvidos o EP A Little Late (2014, edição do autor) e o single Tierney Terrace ‎(na Transgressive Records em 2015), é o corolário da vivência (até ao momento) do londrino Benjamin Gerard Coyle-Larner, o nome de berço do homem em causa. Ele fala abertamente do pai tê-lo abandonado (e à mãe) quando era miúdo; a mãe ter acabado por encontrar um homem decente que a fez feliz, homem que moldou um rapazito disléxico e hiperactivo; ter crescido ao lado do meio-irmão; fantasiar com uma irmã que gostaria de ter abraçado e amado; andar rodeado de amigos manhosos que não sabia se invejar ou não; namoradas duvidosas; drogas e álcool; a morte do padrasto e a consequente decisão de abandonar o curso de actor na Brit School.

Yesterday's Gone é, e chamemos-lhe assim, uma biografia ponderada de um puto dos subúrbios que tanto assume o positivo, a família – e basta ver como o autor eloquentemente recorre aos que lhe são mais próximos nos videoclips que filma, ou os expõe na capa do álbum numa feliz foto de grupo –, como as vicissitudes – acima de tudo as amarguras de um adolescente a fazer-se gente nos complexos bairros do sul de Londres. O amigo Rebel Kleff dá uma mãozinha na produção. Mais gente o ajuda – até a mãe intervém com ironia. Tudo em família!

Por tudo o que é apresentado em Yesterday's Gone, Loyle Carner ter perfeita consciência do que o rodeia, ele mesmo ser e retratar-se como um tipo comum, o disco destoa de tudo o que normalmente ouvimos vindo de Inglaterra. Ao contrário dos petardos ruidosos do grime, é-nos proposto realidade, sobriedade, introspecção, e muita melodia. Rap com os pés assentes na rua – como os padrinhos do Bronx o idealizaram. Se mais gente naquela ilha a caminho do Pólo Norte fizesse mais disto, Loyle Carner passaria despercebido. Sendo o único a fazê-lo neste momento, contrariando a corrente marginal da cena UK, ele concentrando-se na sua natureza, nada mais haverá a dizer disto tudo senão well done, kid. Temos disco.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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