O mundo divide-se entre dois tipos de pessoas: aquelas que mantêm a sua poker face perante um trocadilho alarvamente palerma, e aquelas que se descangalham a rir como se não conhecessem qualquer outro tipo de comédia. O exemplo: Bracara Angvstia e "Black Sábado", respectivamente o primeiro EP e o segundo tema nele presente, dos bracarenses Pé Roto. Não que haja, ao longo destes 30 minutos de porrada, qualquer motivo para rir. O trocadilho não é só enganador: é sarcástico.

Bracara Angvstia é a descrição carinhosa que os Pé Roto arranjaram para a sua cidade natal, que não obstante as boas francesinhas, as vistas incríveis e o facto de serem pousio para a melhor banda do mundo, é também o local onde cada casa dista uma igreja de outra e onde existe o Sardinha Biba. Um sítio de extremos, portanto. Um sítio que, para os Pé Roto, não parece merecer mais do que o seu rancor, expelido em saraivada atrás de saraivada de riffs cavalões, compostos em ponto cruz: uma linha de metal, outra de hardcore, tudo pintado com vómito. Parece simples, não é?

Mas não é simples, porque para que isto do rancor aconteça é preciso passar, primeiro, uns largos anos a marinar na sujeira. Seja ela a sujeira de uma qualquer Braga amorfa, em particular, ou a do capitalismo rançoso, no geral. A angústia tomou a forma de um disco que se ouve uma, duas, trinta vezes sempre com volume no máximo - e talvez seja essa a sua fraqueza, já que, a espaços, pensamos se Bracara Angvstia não soará muito mais pujante ao vivo do que aqui, não obstante a carga eléctrica. Talvez sim, talvez não. Seja como for, o melhor é conferi-lo numa qualquer noite em que o negrume se nos cole à pele e nos leve a procurar um escape para a angústia. Este é o dos Pé Roto, e parece-nos imenso.