DISCOS
Twenty One 4tet / Govaert/Reis/Vicente/Martinsson / Dikeman/Vicente/Antunes/Ferrandini
Live at Zaal 100 | In Layers | Salão Brazil
· 01 Fev 2017 · 00:19 ·
Twenty One 4tet / Govaert/Reis/Vicente/Martinsson / Dikeman/Vicente/Antunes/Ferrandini
Live at Zaal 100 | In Layers | Salão Brazil
2016
Clean Feed / FMR / No Business
Twenty One 4tet / Govaert/Reis/Vicente/Martinsson / Dikeman/Vicente/Antunes/Ferrandini
Live at Zaal 100 | In Layers | Salão Brazil
2016
Clean Feed / FMR / No Business
Improvisações luso-qualquer-coisa.
A cena improvisada portuguesa começa a dar nas vistas, particularmente a nível internacional – sim, a mais recente edição da revista Wire destaca a "Lisbon's new jazz vanguard", mas os ouvidos atentos sabem que não é de agora, já há muitos anos essa música incrível vem florescendo. E se os discos de Rodrigo Amado e do Motion Trio já são presença regular nas listas dos melhores do ano de publicações especializadas há algum tempo, outros músicos portugueses têm vindo a apostar na internacionalização, fomentando projectos com músicos estrangeiros, editando discos em parceria. O trompetista Luís Vicente tem vindo a realizar um trabalho exemplar e os três discos aqui reunidos – todos gravados em quarteto - são reflexo dessa intensa actividade.

Gravado ao vivo na sala Zaal 100, em Amesterdão, este disco de estreia do quarteto Twenty One é mais uma edição da imparável Clean Feed – que continua a ser uma das grandes propulsoras da música improvisada e do jazz contemporâneo neste século XXI. Neste grupo transnacional o trompetista Vicente reúne-se com três músicos da cena local: o saxofonista americano John Dikeman e dois holandeses, o contrabaixista Wilber De Joode (músico experiente, parceiro de Han Bennink, Carlos Zíngaro e Ken Vandermark) e o baterista Onno Govaert (da geração mais jovem). A improvisação é uma música de pesquisa, mas o quarteto encontra rapidamente pontos de contacto e equilíbrio. O diálogo flui escorreito, imaginativo. O trompete de Vicente é o primeiro destaque do disco, com uma longa exploração inicial. Os sopros envolvem-se em boa articulação, tal como a secção rítmica se entrelaça – e reage, e provoca. O resultado poderá por vezes quase soar a jazz bop, como noutros momentos se aproxima do experimentalismo puro (especialmente por responsabilidade do saxofone de Dikeman).

Também gravado ao vivo na Zaal 100, foi o disco In Layers. Desta vez, ao lado de Vicente estão o guitarrista luso Marcelo dos Reis, o baterista Onno Govaert (do quarteto Twenty One) e o jovem pianista islandês Kristján Martinsson. Absolutamente improvisada, a música deste quarteto aproxima-se por vezes de uma matriz de câmara – também pela natureza dos instrumentos. O baterista lança intervenções sussurradas; o piano vai pincelando notas esparsas; a guitarra responde com faíscas breves; e o trompete dialoga, quase só respiração. A música do quarteto cresce e, no pico do segundo tema, “Fresco”, já todos os instrumentos se embrulharam numa majestosa caldeirada sónica. O disco vai atravessando diversos ambientes, entre a contenção e a explosão, com os quatro instrumentistas a navegarem sem receio, sem medo da rebentação.

No terceiro disco, Salão Brazil, o trompetista Luís Vicente regressa ao formato de quarteto clássico: trompete, saxofone, contrabaixo e bateria. Complementando a dupla de sopros, o trompetista reencontra o saxofonista John Dikeman (que repete a parceria já registada no grupo Twenty One). A secção rítmica é composta por dois verdadeiros pontas de lança da improvisação nacional: o contrabaixista Hugo Antunes e o baterista Gabriel Ferrandini – ambos músicos versáteis de assombrosa técnica e energia. Registado ao vivo em Coimbra (na sala que dá o título), e editado pela label lituana No Business, este disco reúne um verdadeiro conjunto “all-star” e o grupo trata de confirmar as credenciais. Encontramos aqui uma improvisação exploratória, com pontas soltas, com muitas ideias, que rapidamente evolui para altos níveis de energia e explosão, à boa maneira ayleriana.

Comum a todos estes discos, está o trompete de Luís Vicente. Versátil, atento, reactivo e provocador. Convoca harmonias, entrelaça ideias, mas também lança chamas. Estes são apenas alguns dos recentes projectos do trompetista, que desde 2012 – ano em que editou o disco de estreia do seu trio, Outeiro - vem construindo um percurso imparável. E faltaria ainda falar dos seus outros grupos: Fail Better!, Chamber 4, What About Sam?, Deux Maisons, Vicente/Marjamäki e Clocks and Clouds. Sim, é oficial, a música improvisada portuguesa está bem viva e recomenda-se. É também por causa de discos como estes.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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