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Entropi
New Era
· 27 Out 2016 · 11:53 ·
Entropi
New Era
2015
F-IRE


Sítios oficiais:
- F-IRE
Entropi
New Era
2015
F-IRE


Sítios oficiais:
- F-IRE
Uma nova era.
Já estamos habituados a ouvir jazz criativo oriundo do Reino Unido. No âmbito do jazz contemporâneo, temos vindo a sido brindados com projectos que trabalham uma fusão jazz e rock, nas margens da pop - Polar Bear, Led Bib, Portico Quartet, Acoustic Ladyland, etc.. Foi também na ilha britânica que se afirmou um importante pólo da improvisação europeia (Evan Parker, Derek Bailey, SME, AMM, etc.) e de onde continuam actualmente a fervilhar nomes brilhantes (John Butcher, John Edwards, etc.).

Liderado por Dee Byrne, saxofone alto e composição, este projecto Entropi não vai ao encontro daquilo que se associa automaticamente ao jazz ou à improvisação contemporâneo britânica: não é jazz-rock enérgico e acessível; não é improvisação pura e dura. O grupo desenvolve um jazz acústico limpo, com um espaço amplo para a composição original que é também bem articulada com improvisação.

O disco arranca num completo rebuliço, uma confusão sónica breve, que rapidamente desagua em linhas melódicas bem definidas, assumindo-se aí um tema claro. O saxofone (alto) da líder é o primeiro a solar e esta desde logo afirma as suas credenciais como instrumentista, com um fraseado sólido, sempre em crescendo; o trompete de Andre Canniere dá boa réplica ao saxofone da líder; o grupo encontra-se após os dois solos, para fechar esse tema inaugural, “New Era”, que marca o tom para o resto do disco: complexo, intrigante, supreendente.

Ao segundo tema, “Mode for C”, após uma breve introdução, o grupo ataca um tema original de matriz hardbop clássico (no booklet refere-se a inspiração em “Miles Mode” de Coltrane); aqui o solo do saxofone é aguentado por uma secção rítmica atenta, enérgica; piano (Rebecca Nash) sempre a marcar, contrabaixo (Olie Brice) e bateria (Matt Fisher) impecáveis. Durante o solo de trompete o grupo abranda o ritmo e de repente aquele tema hardop é transformando em baladona arrastada.

Em “Crippled Symmetry” um piano angelical faz a abertura, cerimoniosamente, quase religioso; mas em breve estamos perante um “groove” cavalgante, imparável. Estes temas são representativos da diversidade do álbum que, apesar do aspecto clássico formal, surpreende pela forma como cada tema é trabalhado. A capa e os títulos andam sempre à volta da temática espacial, mas esta música tem os pés assentes na terra. Muito estruturada, com larga margem para a criatividade.

Se os sopros são os destaques naturais, mas é a intervenção de Rebecca Nash no piano (sobretudo no eléctrico Fender Rhodes) que acaba por ser um elemento central. As composições são frescas, os cinco músicos mostram-se em óptimo nível. Um excelente disco de estreia de um grupo que surpreende a cada audição.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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