DISCOS
Octa Push
LĂngua
· 24 Out 2016 · 09:43 ·
Octa Push
LĂngua
2016
Combatentes
Sítios oficiais:
- Octa Push
LĂngua
2016
Combatentes
Sítios oficiais:
- Octa Push
Octa Push
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2016
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- Octa Push
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2016
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- Octa Push
"DĂ! CadĂȘ a TUA lĂngua?"
África corre-lhes nas veias, tal como a bass-music. Contudo, kuduro "progressivo" nunca foi a cena deles. Em Julho de 2013, Leonardo Guichon foi franco em entrevista ao Bodyspace: (…) Não somos ingratos e agradecemos o facto do kuduro e a Enchufada terem acabado por nos abrir portas e ter feito com que chegássemos mais facilmente a alguns sítios. Mas fazer um determinado estilo só porque “está a bater” e nos vai beneficiar não é correcto.
Oito não foi kuduro, mas tinha África. Era bass music africanizada com complexo de progressiva experimentação: foi algo pragmático, dançante, pensado para fora – já que foi de fora que, ironicamente, o projecto foi encontrado cá dentro. Oito caracterizou-se por ser daquelas obras empenhadas em mostrar eficiência, trabalho, proficuidade, e mostrava ter uma amalgama de amizades – porque há sempre aqueles amigos dispostos a dar a perninha à causa.
Continuamos a ir buscar sons africanos, mas o lado mais tradicional, um bocado o som que a nossa mãe nos mostrava quando éramos miúdos. Acaba por ser um elemento que está sempre presente nos nossos temas, às vezes manifesta-se de uma forma tímida e de outras vezes de forma mais descaradona. Palavras proferidas em 2013 em dita entrevista (concedida a Alexandra João Martins do Bodyspace) que hoje fazem MAIS sentido. Isto porque, ao ouvir o novo disco, Língua, há uma sincera presença do lado tradicional, o som que a mãe dos manos provavelmente mostrava quando eram miúdos. E se Oito era o “tímido”, com o segundo capítulo, finalmente, temos o descaradão.
Com Língua, os Octo Push perdem o lado mais pretensioso que caracterizava parte de Oito. Eles soltam-se, e a música com eles. Nós ganhamos. O português domina, não só na língua, mas também na musicalidade. Estamos perante um projecto que pega na África portuguesa, na nostalgia, nas boas memórias, e rega o que já lá vai das terras do condenado império com o fluido da contemporaneidade. Língua soa a um Portugal definitivamente resolvido com o passado, um Portugal a voltar para se imiscuir.
Isto é, uma vez mais, um disco de colaborações. Mas desta vez com colaborações que fazem pleno sentido – porque é de portugalidade que se trata neste tratamento: Maria João (sempre incrível naquele seu contorcionismo vocal), Tó Trips, Batida, Cachupa Psicadélica, Alex (dos desaparecidos Terrakota), Cátia Sá ou os surgidos Gospel Collective; todos em cantos distintos, aqui unidos pela língua; e todos acrescentam substância, pertinência à produção de Leonardo e Bruno. Não há meras convocatórias de amigos para ornamentar as partituras digitais!
A variedade de sons e paisagens não permite confinar o alinhamento a qualquer género. A absoluta diversidade, contudo, não é desregulada. Discretamente, os Octa Push – qual maestros – agilizam a produção, deixam espaço aberto para que a electrónica vá ao encontro do andamento da instrumentação física – e aqui há a evidenciar uma das grandes diferenças entre este disco e o antecessor: aqui tudo soa orgânico. E se há algum elemento que cola tudo é o baixo – a invisível presença da bass music é de saudar.
Língua não é um extraordinário exercício de estilo. Ele é amiúde certeiro, de pertinentes abordagens. Mas provavelmente não será muito recordado daqui a meia-dúzia de anos. O projecto ainda terá de se esforçar um pouco mais para conseguir a singularidade – o que distingue os grandes dos pequenos. O alinhamento saltita em momentos com opções que parecem contradizer o todo. E o problema não estará tanto no espírito da produção mas na sua real execução.
“Fogo” é uma bela abertura de pano, “Língua” é de uma simples mas maviosa poesia, “Trips Makakas” provoca com guitarrada fado que nunca o é – e isso é incrível! –, “Gaia Cósmica” é de longe a enorme concretização destes descobridores de Carcavelos. Em contrapartida, os insípidos “Xilofone Teteté”, “Mana”, “Barbará” e o – completamente – desajustado-forçado (para não dizer desastrado!) derivado afrobeat “LGS-LX”, parecem ter sido paridos em dias de contrariadade; simplesmente a bota não bate com a perdigota: a realidade não corresponde com o que a dupla (talvez) tinha em mente – boas ideias went sideways? Salve a “Zeca” – em homenagem ao grande Afonso – que consegue ser nos últimos minutos uma fogosa explosão de alegria capaz de fazer esquecer aqueles, alguns… percalços.
Rafael SantosOito não foi kuduro, mas tinha África. Era bass music africanizada com complexo de progressiva experimentação: foi algo pragmático, dançante, pensado para fora – já que foi de fora que, ironicamente, o projecto foi encontrado cá dentro. Oito caracterizou-se por ser daquelas obras empenhadas em mostrar eficiência, trabalho, proficuidade, e mostrava ter uma amalgama de amizades – porque há sempre aqueles amigos dispostos a dar a perninha à causa.
Continuamos a ir buscar sons africanos, mas o lado mais tradicional, um bocado o som que a nossa mãe nos mostrava quando éramos miúdos. Acaba por ser um elemento que está sempre presente nos nossos temas, às vezes manifesta-se de uma forma tímida e de outras vezes de forma mais descaradona. Palavras proferidas em 2013 em dita entrevista (concedida a Alexandra João Martins do Bodyspace) que hoje fazem MAIS sentido. Isto porque, ao ouvir o novo disco, Língua, há uma sincera presença do lado tradicional, o som que a mãe dos manos provavelmente mostrava quando eram miúdos. E se Oito era o “tímido”, com o segundo capítulo, finalmente, temos o descaradão.
Com Língua, os Octo Push perdem o lado mais pretensioso que caracterizava parte de Oito. Eles soltam-se, e a música com eles. Nós ganhamos. O português domina, não só na língua, mas também na musicalidade. Estamos perante um projecto que pega na África portuguesa, na nostalgia, nas boas memórias, e rega o que já lá vai das terras do condenado império com o fluido da contemporaneidade. Língua soa a um Portugal definitivamente resolvido com o passado, um Portugal a voltar para se imiscuir.
Isto é, uma vez mais, um disco de colaborações. Mas desta vez com colaborações que fazem pleno sentido – porque é de portugalidade que se trata neste tratamento: Maria João (sempre incrível naquele seu contorcionismo vocal), Tó Trips, Batida, Cachupa Psicadélica, Alex (dos desaparecidos Terrakota), Cátia Sá ou os surgidos Gospel Collective; todos em cantos distintos, aqui unidos pela língua; e todos acrescentam substância, pertinência à produção de Leonardo e Bruno. Não há meras convocatórias de amigos para ornamentar as partituras digitais!
A variedade de sons e paisagens não permite confinar o alinhamento a qualquer género. A absoluta diversidade, contudo, não é desregulada. Discretamente, os Octa Push – qual maestros – agilizam a produção, deixam espaço aberto para que a electrónica vá ao encontro do andamento da instrumentação física – e aqui há a evidenciar uma das grandes diferenças entre este disco e o antecessor: aqui tudo soa orgânico. E se há algum elemento que cola tudo é o baixo – a invisível presença da bass music é de saudar.
Língua não é um extraordinário exercício de estilo. Ele é amiúde certeiro, de pertinentes abordagens. Mas provavelmente não será muito recordado daqui a meia-dúzia de anos. O projecto ainda terá de se esforçar um pouco mais para conseguir a singularidade – o que distingue os grandes dos pequenos. O alinhamento saltita em momentos com opções que parecem contradizer o todo. E o problema não estará tanto no espírito da produção mas na sua real execução.
“Fogo” é uma bela abertura de pano, “Língua” é de uma simples mas maviosa poesia, “Trips Makakas” provoca com guitarrada fado que nunca o é – e isso é incrível! –, “Gaia Cósmica” é de longe a enorme concretização destes descobridores de Carcavelos. Em contrapartida, os insípidos “Xilofone Teteté”, “Mana”, “Barbará” e o – completamente – desajustado-forçado (para não dizer desastrado!) derivado afrobeat “LGS-LX”, parecem ter sido paridos em dias de contrariadade; simplesmente a bota não bate com a perdigota: a realidade não corresponde com o que a dupla (talvez) tinha em mente – boas ideias went sideways? Salve a “Zeca” – em homenagem ao grande Afonso – que consegue ser nos últimos minutos uma fogosa explosão de alegria capaz de fazer esquecer aqueles, alguns… percalços.
r_b_santos_world@hotmail.com
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