DISCOS
My Master The Sun
A Arte Da Desobediência
· 29 Set 2016 · 10:03 ·
My Master The Sun
A Arte Da Desobediência
2016
Ragingplanet


Sítios oficiais:
- My Master The Sun
- Ragingplanet
My Master The Sun
A Arte Da Desobediência
2016
Ragingplanet


Sítios oficiais:
- My Master The Sun
- Ragingplanet
(DIS)OBEY
A chave para a felicidade é a desobediência. Vivemos tempos em que o espectro do totalitarismo volta a assolar não só a Europa como o mundo inteiro, em que o outro - seja lá ele quem for - merece de nós apenas o ódio e o medo. Vivemos tempos em que, acobardados e alienados, deixamos que façam de nós e dos outros o que bem entenderem, desde que não nos chateiem. E os lobos agradecem, porque sabem que os carneiros continuarão a estar bem entretidos com a sua ervita. Nenhum deles arriscaria pôr a pata no charco e arriscar-se a ficar sem pêlo.

Os My Master The Sun, quarteto lisboeta que editou este ano este que é o seu segundo disco, arriscaram. Olharam para o prado em redor e propuseram-se a correr de vez com os predadores. A sua arma? Uma bomba de cinquenta minutos, espírito punk que decidiu vestir-se com uma armadura metálica e disparar até cobrir o verde com o prateado das cápsulas de bala. A Arte Da Desobediência apresenta-se como mais do que um disco; é um manifesto, um trovejar contra o estado a que chegámos.

A trovoada, essa, junta riffs pesados ao grito em bom português. O que é coisa rara, e merece ser elogiada; são muito poucas as bandas que conseguem fazer com que a língua portuguesa soe bem sob uma camada de ruído do bom. Somos uma nação de poetas e não de trovadores, afinal de contas. A nação do deixa-andar e não a do panfleto. No que à voz diz respeito, aliás, apenas se aponta um momento mais bacoco durante "Os Corvos Levantam Voo" - mas isso se deve em parte, também, porque o tema em questão coloca alguma acalmia no meio da guerra. E na guerra não há espaço para pausas.

Guerra, sim: dos acordes de "Assassimio" até aos do tema-título, três temas em sucessão de causar problemas aos asmáticos. Mas mesmo que o seu lema seja devorar as guitarras e juntar-lhe umas pitadas de sludge, outras de rock psicadélico e ainda algumas incursões pelo pós-qualquer coisa, o melhor momento de A Arte Da Desobediência é o seu minuto punk: "TV", hardcore bruto contra a passividade. Tudo somado, este álbum ensina-nos que a desobediência é uma arte; falta ser também o ofício.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

Parceiros