DISCOS
Mind Monogram
AM in the PM
· 09 Set 2016 · 23:50 ·
Mind Monogram
AM in the PM
2016
Aagoo Records


Sítios oficiais:
- Mind Monogram
- Aagoo Records
Mind Monogram
AM in the PM
2016
Aagoo Records


Sítios oficiais:
- Mind Monogram
- Aagoo Records
Californian Dream
E é quase disso que se trata, um sonho em forma de viagem. AM in the PM seduz-nos à primeira audição, leva-nos para o interior de um carro que arranca em direcção ao pôr-do-sol, um indian summer onde a brisa ganha espessura e parece dançar por entre os nossos dedos antes de docemente beijar o rosto.

Ainda por parir, o primeiro longa-duração dos californianos (sai dia 7 de Outubro), AM in the PM, arranca do psych-pop, pintalgado aqui e ali de um psy de tom vintage, para uma viagem pela Vida. Uma vida em 24 horas, tempo suficiente para nos deleitarmos calma e serenamente por paisagens sonoras que respiram viagem, ou não fosse a Vida, ela própria, viagem que nos encaminha para um fim indesejado, tal como a intro “The Awakening” nos carrega para a bela e despojada “The Giver”, oitava e última música do alinhamento do disco.

Pelo meio, entre uma paragem para meter gasolina e um cigarro mal fumado depois de um café num qualquer dinner de beira de estrada algures no Nevada, o nosso carro chamado Vida arranca lenta mas decididamente pela estrada de “AM in the PM”, tema que dá nome ao álbum e força a uma banda que, aqui, encontra a bandeira que carregará até ao pôr-do-sol numa praia deserta da California. Ensopado de guitarras e bateria, com a voz quase mefistofélica de Edgar A. Ruiz a guiar um caminho regado a reverbs bem medidos. Com estes modos simples, modestos até, os Mind Monogram exaltam a música que fazem; dão-lhe originalidade (embora o fantasma de Tame Impala ande por lá) e criam um estado mental propício ao relaxe e ao bem-estar. Ouvir AM in the OM é uma catarse, é um expurgar de problemas ao longo de pouco menos de 30 minutos, é música que faz bem ao espírito.

Da maior força de “AM in the PM” caminha-se para a fragilidade aparente e inerente em “Elephant Swing”. Minutos de swing e boa energia a que se segue “The Boy, the Wolf and the Hill” mais carregada ao rock de índole psicadélica (Jefferson Airplane algures por aqui) mas carinhosa. É difícil adjectivar a carga contida neste tema. Ele procura, procura-se e encontra-se em não se encontrar e, no entanto, tudo continua bem, o vento corre-nos por entre os dedos e Cali está cada vez mais próxima. O registo é homogéneo dentro de oito partículas heterogéneas o suficiente para ganharem individualidade.

Prova disso é a trindade uqe finaliza o disco. “The Sense”, “Real Slow” e “The Giver”. A primeira marca o tom com que se cozeram as outras duas. O marco jazzístico e as guitarras que parecem querer arrancar em força, mas sempre detidas pela bateria que parece dizer que ainda não é a altura de abraçar o mar, atiram-nos para o momento final épico-trágico – delico-doce de “The Giver”. Estamos nas redondezas de Los Angeles, o sol afunda-se no mar e a música pinta o céu de laranja, cor que nos inunda em pleno indian summer, aqueles dez minutos de sol que acentuam o dramatismo de um fim de tarde ou de um fim de vida. O mar é metáfora, o pôr-do-sol também, mas os Mind Monogram e o seu registo de uma vida em 24 horas AM in the PM não. São simples, são honestos, são transparentes e isso cria beleza, a beleza de uma música crua mas generosa que faz bem à mente e ao espírito.
Fernando Gonçalves
f.guimaraesgoncalves@gmail.com

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