Que faz um homem deixar de parte as guitarras hardcore e enveredar prego a fundo pela electrónica? Os exemplos são vários, e Iuri Landolt - ou egbo, assim mesmo, em minúsculas - é um desses exemplos. O projecto já tem alguns anos de vida, chegando agora ao terceiro álbum, yesterday you said tomorrow - também em minúsculas -, mantendo o traço electrónico e a base de sinkin' ships e XYZ: um sampler, um computador, uma música entre o glitch e o bass.

É para dançar? Talvez, se assim quisermos. É para pensar? Muito mais isso, julgamos, mal o clink-clonk de "dpaf" começa a cintilar phones fora, uma espécie de musique concrète que marca o primeiro passo de um mundo onde não se pode deixar para amanhã aquilo que se pode fazer hoje. No Facebook, alguém chama-lhe trap satânico. Os beats minimalistas e a atmosfera negra aqui presente podem ir de encontro a essa descrição, mas yesterday you said tomorrow é bastante mais. É neuromagia aplicada: os músculos relaxam instantaneamente com os sintetizadores de "silley beamz". Pelo menos antes de chegar ali quase ao final, onde a loucura é quase cósmica...

Uma noção de espaço - astrológica e musical - que é bastante bem notória neste disco, quando não são as vibes tecnológicas de "sourwvz" a puxar pelo canto mais fundo da memória, um som que parece vir de um passado distante ou de um futuro apocalíptico como no Exterminador Implacável. E se o piano quebrado de "memory -c" arrefece, o glitch tribal de "pesi cola" logo se apodera novamente dos nossos sentidos. Os mesmos que "pewju", tema incrivelmente narcótico, tenta desligar. Não deixem para amanhã o que podem fazer hoje - que é ouvir este sacana.