DISCOS
Nisennenmondai
#N/A
· 07 Jun 2016 · 14:35 ·
Nisennenmondai
#N/A
2016
On-U-Sound Records


Sítios oficiais:
- Nisennenmondai
- On-U-Sound Records
Nisennenmondai
#N/A
2016
On-U-Sound Records


Sítios oficiais:
- Nisennenmondai
- On-U-Sound Records
Motorika Tríptica.
A discografia das Nisennenmondai, trio japonês composto pela guitarrista Masako Takada, pela baixista Yuri Zaikawa, e pela baterista Sayaka Himeno, já é considerável. Mas é com #N/A que se estreiam numa editora mítica. A On-U-Sound, de Adrian Sherwood, responsável, desde há mais de 35 anos, por explorar novos caminhos para a música onde os graves têm papel preponderante. Como é, sobretudo, o caso do dub. E, sem surpresas, a combinação veio a resultar às mil maravilhas. #N/A é um dos grandes discos de 2016. Um autêntico vórtice negro, que absorve e liberta sons sem aparentar qualquer toque humano. É só quando nos lembramos do anterior disco N, e da capacidade de Sherwood em manipular sons, que nos convencemos que ali existe carne, pele e osso a criar os ruídos que escutamos.

Há um caminho fácil a seguir, quando uma banda parece conter em si o movimento perpétuo, que é compará-la aos míticos Neu. As Nisennenmondai, essas, merecem-no inegavelmente. Não porque possamos comparar qualquer instante deste álbum à música dos autores de “Hallogallo”. Mas antes porque o espírito de que “Para a Frente é que é o Caminho” está presente nas três instrumentistas. Independentemente de qual seja o som que predomina em cada momento. Não é o caso básico de haver uma bateria a imitar a de Klaus Dinger. É o caso de uma guitarra que praticamente nunca soa a guitarra, e que nos leva a coçar a cabeça, e a perguntar como chegaram a fazê-la soar a um criador de vácuo. É o baixo que golpeia fundo, como se exige no dub. Mesmo que o faça em notas espaçadas. É a bateria, onde o reverb faz-se sentir ao de leve, sem constrangir o impacto, ou a energia cinética. A simbiose com a habilidade de estúdio de Sherwood é total. De tal forma que fica por adivinhar se isto conseguirá ser reproduzido ao vivo.

Até existe uma espécie de antecessor para #N/A. Um que é um tanto ou quanto inesperado. Ouçam o início de “Bela Lugosi’s Dead”, dos Bauhaus. Depois imaginem-no expandido, des-gothizado, desumanizado. #N/A é exactamente isso. Um disco que agarra num instante específico, e lhe confere o milagre do crescimento. Um sistema coronário que só os seus autores possuem o segredo do seu funcionamento, e o equipamento para o examinar. É difícil imaginar que outro disco este ano abra tantas portas, e nos obrigue a penetrar tão fundo nas potencialidades que a música ainda pode oferecer. Poderá não ser o disco mais acessível de sempre. Mas é de Obras Únicas assim que nascem outras Obras Únicas.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

Parceiros