DISCOS
Xeg
Conhecimento
· 26 Abr 2004 · 08:00 ·

Xeg
Conhecimento
2004
Matarroa
Sítios oficiais:
- Matarroa
Conhecimento
2004
Matarroa
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- Matarroa

Xeg
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2004
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2004
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Xeg é um experiente MC de Lisboa que edita agora Conhecimento pelo nortenha Matarroa. Xeg já participou em várias mixtapes e álbuns hip-hop alheios. Conhecimento é o seu segundo disco, depois de Ritmo & Poesia de 2001. O clássico "Vaca de Merda", passado "de mão em mão" pela Internet tornou-se num êxito relativo, satisfazendo aquela parte do cérebro do português que vibra com brejeirices e machismos orgulhosos. Ok, admito que já cantei aquele refrão diabólico.
Conhecimento não é um mau disco. É bem produzido, com beats e vozes límpidas, batidas funky, scratches. Está tudo no sítio, como mandam os preceitos. Há "bocas" ao sistema, ao capitalismo, mas há também música para as "guarras", coros r'n'b para discoteca africana. Há tributos ao hip-hop e a ideologia "nós contra eles". Há (tentativas de) humor (brejeiro). Há participações alheias (NBC, DJ Link, New Max, Regula). No entanto, preenchidos os requisitos do que é um disco de hip-hop - e todos eles preenchidos sem esforço porque Xeg anda "nisto" há muito tempo -, Conhecimento não tem a substância aditiva que sobressai nuns Micro, Dealema, Mind da Gap, Sam the Kid. Essa é a primeira divisão; Xeg está na segunda. Adiante.
Xeg tem um óptimo flow, mas a voz não é particularmente forte. A somar a isso, todas as canções de Conhecimento apostam na lógica "um beat por canção", mais própria dos primórdios do hip-hop português do que da fase mais criativa que atravessamos. "Até nos Ossos" é disso exemplo: a canção tem um refrão forte, mas peca pela monotonia - 4:30 com o mesmo beat funky acaba por cansar. NBC dá um brilho especial a "Isto é", engatando as palavras em catadupa ("isto é o corpo que baila, a mão que trabalha no prato e não falha, a boca que ralha para tirar a palha da cabeça daquele canalha"). O refrão está na linha ténue do rythm'n'blues aceitável e o tenebroso. Inclino-me para a primeira opção porque tenebroso é o refrão de "Tinha de ser". Xeg convidou New Max dos assustadores Expensive Soul para os coros a puxar ao sexy. De uma vez por todas, um refrão que diz "Baby diz-me onde falhei, eu volto atrás, se é tão bom viver contigo, então onde estás?" não pode ser boa coisa. Não é assim que chegam à soul - estão mais próximos dos Anjos do que do Marvin Gaye.
"Do contra" com a participação de Regula é mais cool, música de puto esperto, a debitar sobre "damas", "decotes", e "pacotes". "Já não sou" impõe alguma dureza no discurso com sucesso, mas faz piadas com a Casa Pia. "Susana" é uma história do engate até uma falsa gravidez, machista quanto baste, uma seca de quase seis minutos, com boas rimas e desenvoltura de discurso, mas zero de conteúdo. E, Xeg, desafinar não é cool, mesmo que seja na brincadeira. "Nesse dia" confunde gostar de Eminem com pertencer ao "sistema". "A minha filosofia", "Capitalismo" e "O Sistema" fecham o disco com o discurso ácido, sem grandes diferenças estilísticas e temáticas.
Conhecimento é um disco que será a delícia de muitos fãs indefectíveis do hip-hop "tuga", mas falta-lhe criatividade, arrojo e força para romper esse círculo restrito. No fundo, falta-lhe ser um objecto musical interessante, mais do que um objecto confinado a um público determinado.
Pedro RiosConhecimento não é um mau disco. É bem produzido, com beats e vozes límpidas, batidas funky, scratches. Está tudo no sítio, como mandam os preceitos. Há "bocas" ao sistema, ao capitalismo, mas há também música para as "guarras", coros r'n'b para discoteca africana. Há tributos ao hip-hop e a ideologia "nós contra eles". Há (tentativas de) humor (brejeiro). Há participações alheias (NBC, DJ Link, New Max, Regula). No entanto, preenchidos os requisitos do que é um disco de hip-hop - e todos eles preenchidos sem esforço porque Xeg anda "nisto" há muito tempo -, Conhecimento não tem a substância aditiva que sobressai nuns Micro, Dealema, Mind da Gap, Sam the Kid. Essa é a primeira divisão; Xeg está na segunda. Adiante.
Xeg tem um óptimo flow, mas a voz não é particularmente forte. A somar a isso, todas as canções de Conhecimento apostam na lógica "um beat por canção", mais própria dos primórdios do hip-hop português do que da fase mais criativa que atravessamos. "Até nos Ossos" é disso exemplo: a canção tem um refrão forte, mas peca pela monotonia - 4:30 com o mesmo beat funky acaba por cansar. NBC dá um brilho especial a "Isto é", engatando as palavras em catadupa ("isto é o corpo que baila, a mão que trabalha no prato e não falha, a boca que ralha para tirar a palha da cabeça daquele canalha"). O refrão está na linha ténue do rythm'n'blues aceitável e o tenebroso. Inclino-me para a primeira opção porque tenebroso é o refrão de "Tinha de ser". Xeg convidou New Max dos assustadores Expensive Soul para os coros a puxar ao sexy. De uma vez por todas, um refrão que diz "Baby diz-me onde falhei, eu volto atrás, se é tão bom viver contigo, então onde estás?" não pode ser boa coisa. Não é assim que chegam à soul - estão mais próximos dos Anjos do que do Marvin Gaye.
"Do contra" com a participação de Regula é mais cool, música de puto esperto, a debitar sobre "damas", "decotes", e "pacotes". "Já não sou" impõe alguma dureza no discurso com sucesso, mas faz piadas com a Casa Pia. "Susana" é uma história do engate até uma falsa gravidez, machista quanto baste, uma seca de quase seis minutos, com boas rimas e desenvoltura de discurso, mas zero de conteúdo. E, Xeg, desafinar não é cool, mesmo que seja na brincadeira. "Nesse dia" confunde gostar de Eminem com pertencer ao "sistema". "A minha filosofia", "Capitalismo" e "O Sistema" fecham o disco com o discurso ácido, sem grandes diferenças estilísticas e temáticas.
Conhecimento é um disco que será a delícia de muitos fãs indefectíveis do hip-hop "tuga", mas falta-lhe criatividade, arrojo e força para romper esse círculo restrito. No fundo, falta-lhe ser um objecto musical interessante, mais do que um objecto confinado a um público determinado.
pedrosantosrios@gmail.com
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