DISCOS
Pinegrove
Cardinal
· 05 Mai 2016 · 23:39 ·
Pinegrove
Cardinal
2016
Run For Cover Records


Sítios oficiais:
- Pinegrove
- Run For Cover Records
Pinegrove
Cardinal
2016
Run For Cover Records


Sítios oficiais:
- Pinegrove
- Run For Cover Records
Não fazer o que ainda não foi feito.
À primeira vista/audição, seria fácil confundir Cardinal com uma série de outros discos feitos por bandas com inclinação para seguir uma tradição de letras depressivas, e guitarras a meio tempo. Porém, passe-se algum tempo com o segundo longa-duração de originais dos Pinegrove, e os pormenores que o distinguem começam a surgir. E o principal consiste na voz de Evan Stephens Hall, a qual apresenta uma entoação a cair para o campo do emo. Embora mantenha uma admirável contenção. Mais American Football que Sunny Day Real Estate. O outro igualmente importante serão as suas excelentes letras. Nestas encontram-se pensamentos e observações sobre aqueles pequenos defeitos que podem complicar qualquer vida. Dificuldades de comunicação, incapacidade de verbalizar pensamentos, a vontade de fugir ao contexto de erros passados, etc.

Existe, é preciso assinalar, uma diferença substancial entre ”Cardinal” e aquilo que habitualmente se espera do emo. Pelo menos no bom sentido. A música, como já afirmara, é escorreita, feita de guitarras que, se não propriamente impressionistas como, por exemplo, as dos National, raramente levantam a “voz”, estando mais próximos, dir-se-ia, da americana (será emoricana?. E, principalmente, não se vislumbram as variantes e complexidades rítmicas que aprendemos a associar-lhe. A música dos Pinegrove tem versos e refrões bem definidos. Simplesmente isso não a impede de nos oferecer detalhes que a elevam para o campo do Muito Bom. O cuidado e delicadeza postos nos arranjos, a expressividade de Evan, a introspeção que nunca se torna onanista, enfatizando a vontade de contacto humano, etc.

No seu Bandcamp, os Pinegrove chamam à sua música “Música para festas introspectivas”. A julgar por alguns relatos que por aí surgem, vai ser difícil a sua crescente popularidade manter esta definição. As letras de ”Cardinal” prometem causar um sentimento de identificação a muita gente. E como manter a “introspeção” quando as salas estão cheias de gente a cantá-las? Mas o talento tem destas coisas. Chega um momento em que ele já não pertence apenas ao seu portador original. E se este texto puder contribuir para que ele se espalhe por mais algumas almas, óptimo. Os Pinegrove puseram, em apenas 30 minutos de disco, mais do que o suficiente para que lhes vislumbremos um futuro de expansão e – letra maiúscula propositada – Importância. Que, ao contrário do que aconteceu com tantos outros, isso seja reconhecido durante o tempo em que estão juntos.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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