Jorge Nuno é um guitarrista português, membro do duo Signs of the Silhouette, banda que nos vem apresentando um original psicadelismo experimental, assente na improvisação. Marcio Gibson é um percussionista brasileiro, improvisador de créditos firmados, que já colaborou com outros músicos nacionais como Carlos Zíngaro, João Pedro Viegas e Abdul Moimême. Este novo disco revela Nuno e Gibson numa estreia em formato duo, um encontro musical registado em São Paulo.

Editado exclusivamente em vinil, o disco é uma edição da francesa Bam Balam Records, label que já tinha editado um disco dos Signs of the Silhouette (Spring Grove, de 2014) e conta no seu catálogo com gravações de gente respeitável como Acid Mothers Temple ou Richard Pinhas, entre outros. O disco arranca com a percussão exploratória de Gibson, entra depois a guitarra eléctrica psicadélica de Nuno (banhada em efeitos). A música deste disco acaba por não se afastar muito da linha da música dos Signs of the Silhouette, quem os conheça encontrará aqui alguma familiaridade sonora, sobretudo pela dinâmica da guitarra.

Hãl reúne apenas três temas: no lado A há "Chinkon"; no lado B há "Anicca" e "Saudade". São temas longos (dois deles quase chegam aos vinte minutos), assentes na improvisação e no diálogo instrumental, onde a tensão que vai crescendo, por vezes desembocando na inevitável explosão sonora (típica da “free improv”). Mas além dessa turbulência e da rugosidade, que resulta do natural confronto guitarra/bateria, ouve-se também uma toada atmosférica, com a guitarra a querer esboçar melodias, quase a evocar Vini Reilly (a meio do primeiro tema, por exemplo). E há ainda uma dinâmica rock, que raramente se encontra noutros projectos de improvisação (ouça-se a parte final do último tema, "Saudade"). Entre os momentos de explosão e a acalmia, a dupla luso-brasileira desenvolve um interessante diálogo, permanentemente evolutivo.