DISCOS
Anenon
Petrol
· 08 Abr 2016 · 11:45 ·
Anenon
Petrol
2016
Friends Of Friends


Sítios oficiais:
- Anenon
- Friends Of Friends
Anenon
Petrol
2016
Friends Of Friends


Sítios oficiais:
- Anenon
- Friends Of Friends
Jazz futurista.
De vez em quando há discos assim: não se percebe muito bem de onde vêm, não importa tentar decifrar para onde vão. São OVNIs - cintilam por breves instantes no céu, desenham curvas e espirais, e desaparecem como se nunca ali tivessem estado. Quando o fazem resta-nos a estupefacção; se formos doidos o suficiente, passaremos a acreditar com todas as forças que esse OVNI continha homens de outro planeta, viajantes que vieram até nós para nos destruir ou, caso sejamos optimistas, para nos ajudar a evoluir.

Anenon, nome com o qual assina o produtor Brian Allen Simon, parece ser um desses homens, capazes de despertar a nossa loucura. E a sua nave-espacial, Petrol, o disco com o qual se estreia na Friends Of Friends, é talvez o objecto mais desafiante deste 2016 que, em escassos quatro meses, se está a revelar bastante prolífico. O jazz é a pauta sob a qual se rege a música de Anenon, mas sem nunca chegar a ser jazz per se; é a electrónica que lhe dá corpo, uma electrónica que varia entre o ambient, o drum n' bass e até as deambulações nocturnas de Burial.

Desde que Alec Empire cruzou o jazz com experimentalismo electrónico em Hypermodern Jazz 2000.5 (1996) que não nos deparávamos com um disco nestes moldes, alheio a quaisquer caracterizações, incansável na sua demanda pela singularidade. O retrato é a Los Angeles onde nasceu o artista, patente desde logo no ruído dos carros atravessando a estrada em "Body", o tema de abertura, antes de se escutaram as primeiras notas evocando a rave perdida no tempo - que, logo de seguida, dão lugar às cordas e ao saxofone.

É este choque entre o "artificial" e o "humano" a força maior de Petrol, mas também há belas canções, que vão desaguando entre si ao longo dos seus (escassos?) quarenta minutos. Há o minimalismo Glassiano de "Mouth" e de "Lumina", terminando esta em modo film noir; há o drum n' bass de "Once", Goldie adaptado à hipnagogia; ou o tema-título, que coloca um ponto final no disco com charme clássico. Petrol é uma verdadeira pedrada no charco; a sua idiossincrasia deverá ser celebrada aqui e agora, resulte isto em novos caminhos para a electrónica e para ou jazz ou num simples brilho fugaz. Seja qual for o seu futuro, o seu presente é de génio.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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