DISCOS
The Heliocentrics
From the Deep
· 30 Mar 2016 · 12:20 ·
The Heliocentrics
From the Deep
2016
Now-Again Records
Sítios oficiais:
- Now-Again Records
From the Deep
2016
Now-Again Records
Sítios oficiais:
- Now-Again Records
The Heliocentrics
From the Deep
2016
Now-Again Records
Sítios oficiais:
- Now-Again Records
From the Deep
2016
Now-Again Records
Sítios oficiais:
- Now-Again Records
O groove de sempre estica-se como nunca.
Não é disparatado dizer que 2016 já valeu a pena porque rendeu mais um disco dos Heliocentrics. A banda londrina, que gravita em torno das habilidades do baterista e produtor Malcolm Catto, manteve sempre uma forte ligação não apenas ao funk e ao jazz mas também ao hip-hop. Mesmo antes de editarem o álbum de estreia, Out There (2007), já tinham sido a banda de apoio de DJ Shadow. De resto, esse disco contém a faixa “Distant Star”, que viria a merecer um retratamento a cargo dos rappers Percee P e MF Doom.
Até chegarem a este From the Deep, os Heliocentrics colaboraram com o pai do jazz etíope Mulatu Astatke, no fundamental Inspiration Information, Vol. 3 (2009), e com o músico americano Lloyd Miller (no ano seguinte), editaram o desafiante 13 Degrees of Reality (2013) e, em 2014, lançaram dois novos discos de colaboração, com Orlando Julius, o veterano saxofonista da Nigéria, e com Melvin Van Peebles, o pioneiro do cinema e da música de raiz afro-americana. Com este impressionante currículo, cada novo disco é um permanente desafiar de normas, que, a propósito, a banda previamente tratou de desregular. Não há balizas normativas capazes de conter o ímpeto criativo desta gente: aqui, o groove de sempre estica-se como nunca numa Via Láctea de peles, sintetizadores e ecos de Kingston.
From the Deep é um disco longo (são 19 faixas no total) mas não demorado. As canções são maioritariamente curtas, por vezes chegam a parecer interlúdios de poeira cósmica, ambiente de western e pontuação jazz (“Discovery”, por exemplo, é isso tudo). As duas faixas mais longas, que mesmo assim não ultrapassam os cinco minutos e meio cada uma, são alçapões onde parece ainda caber mais qualquer coisa onde já cabia tanto: “The Pit” devia ser estudada nos conservatórios de música, tal é a riqueza instrumental que vai do vibrafone endiabrado aos sintetizadores analógicos mas também passa por um saxofone entre o sussurro e o lamento; “Outer Realms, Pt. 2” parece uma lixa electrónica, com batidas pulsantes e tralha que fica a meio caminho entre o retro e o digital.
Não se pense, contudo, que os temas mais curtos são para encher. Isso é verbo que os Heliocentrics não conjugam, pelo menos não o fazem de forma inconsequente. “Thunder & Lightning”, apesar da duração inferior a minuto e meio, poderia figurar numa trilha de Morricone para um filme de base futurista. “Primitivos” começa por ser ventania cibernética para se transformar em thriller atmosférico. E o que dizer de “Night and Day”? Um tema que rebenta com os quatro minutos da pop mais quadrada para neles atafulhar instrumentos de cordas e electrónica crepuscular e que ainda provoca nostalgia quando, nos segundos finais, se ouve o que parece um modem do início da Internet de massas.
Os Heliocentrics não inauguram com From the Deep um novo olhar instrumental sobre o futuro mas mostram-se muito inconformados com o presente. Se acrescentarmos que este material foi desenterrado dos arquivos na sua forma mais crua e que, por isso, os levou a um passado recente, temos aqui o grande espectro temporal coberto. Talvez não fosse má ideia colocar este disco numa posição destacada nas vossas listas provisórias para, no final do ano, não se cobrirem de vergonha.
Hélder GomesAté chegarem a este From the Deep, os Heliocentrics colaboraram com o pai do jazz etíope Mulatu Astatke, no fundamental Inspiration Information, Vol. 3 (2009), e com o músico americano Lloyd Miller (no ano seguinte), editaram o desafiante 13 Degrees of Reality (2013) e, em 2014, lançaram dois novos discos de colaboração, com Orlando Julius, o veterano saxofonista da Nigéria, e com Melvin Van Peebles, o pioneiro do cinema e da música de raiz afro-americana. Com este impressionante currículo, cada novo disco é um permanente desafiar de normas, que, a propósito, a banda previamente tratou de desregular. Não há balizas normativas capazes de conter o ímpeto criativo desta gente: aqui, o groove de sempre estica-se como nunca numa Via Láctea de peles, sintetizadores e ecos de Kingston.
From the Deep é um disco longo (são 19 faixas no total) mas não demorado. As canções são maioritariamente curtas, por vezes chegam a parecer interlúdios de poeira cósmica, ambiente de western e pontuação jazz (“Discovery”, por exemplo, é isso tudo). As duas faixas mais longas, que mesmo assim não ultrapassam os cinco minutos e meio cada uma, são alçapões onde parece ainda caber mais qualquer coisa onde já cabia tanto: “The Pit” devia ser estudada nos conservatórios de música, tal é a riqueza instrumental que vai do vibrafone endiabrado aos sintetizadores analógicos mas também passa por um saxofone entre o sussurro e o lamento; “Outer Realms, Pt. 2” parece uma lixa electrónica, com batidas pulsantes e tralha que fica a meio caminho entre o retro e o digital.
Não se pense, contudo, que os temas mais curtos são para encher. Isso é verbo que os Heliocentrics não conjugam, pelo menos não o fazem de forma inconsequente. “Thunder & Lightning”, apesar da duração inferior a minuto e meio, poderia figurar numa trilha de Morricone para um filme de base futurista. “Primitivos” começa por ser ventania cibernética para se transformar em thriller atmosférico. E o que dizer de “Night and Day”? Um tema que rebenta com os quatro minutos da pop mais quadrada para neles atafulhar instrumentos de cordas e electrónica crepuscular e que ainda provoca nostalgia quando, nos segundos finais, se ouve o que parece um modem do início da Internet de massas.
Os Heliocentrics não inauguram com From the Deep um novo olhar instrumental sobre o futuro mas mostram-se muito inconformados com o presente. Se acrescentarmos que este material foi desenterrado dos arquivos na sua forma mais crua e que, por isso, os levou a um passado recente, temos aqui o grande espectro temporal coberto. Talvez não fosse má ideia colocar este disco numa posição destacada nas vossas listas provisórias para, no final do ano, não se cobrirem de vergonha.
hefgomes@gmail.com
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