DISCOS
Will Samson & Heimer
Animal Hands
· 29 Fev 2016 · 18:40 ·
Will Samson & Heimer
Animal Hands
2015
Karaoke Kalk 83


Sítios oficiais:
- Will Samson & Heimer
- Karaoke Kalk 83
Will Samson & Heimer
Animal Hands
2015
Karaoke Kalk 83


Sítios oficiais:
- Will Samson & Heimer
- Karaoke Kalk 83
Filigrana musical em perfeito equilíbrio estelar,
Universo, jogo de átomos desemparelhados numa constante e infinita dança em busca do equilíbrio. A Química explica-nos que, de quando em vez, a perfeição, digo, o equilíbrio dentro de uma equação química, é atingido. Momentâneo é certo; dura um piscar de olhos, enquanto a entropia própria do sistema o entorna na desordem e confusão.

Até a música, como parte desse sistema nano-infinitesimal com os seus átomos e núcleos, não escapa a essa incessante busca. E é nessa parte que entram Will Samson & Heimer e o seu, de Will, sexto registo de originais Animal Hands com selo da germânica Karaoke Kalk.

A música feita de tenderness de Will Samson, ou não fosse ele britânico de nascimento, juntou-se à electrónica do seu amigo alemão Heimer e, daí, nasceu um cometa de luz emergindo do som e aterrando directamente na nossa mente, no nosso coração, na nossa alma. Animal Hands é isso, mas também é mais, muito mais. É a equação química que encontra o equilíbrio. Tudo certo, tudo bom…

Pré-sentimos e pressentimos logo em “You Golden Glow”, primeira relance de magia em Animal Hands, que o nível será elevado. Quando os electrões e protões no núcleo daquele indiscernível a que chamamos alma entram em rebuliço, percebemos que está para nascer uma estrela, e que estrela. Mas voltemos a “Your Golden Glow”, delicatessen de Primavera. Luz e cor em quatro minutos e dezanove segundos de pura ternura, meiguice cantada ao ouvido à sombra de um carvalho por aquela(e) a quem nos entregamos no mais quente dos dias estivais. Em termos estritamente musicais, a electrónica contida mas fortemente presente, traça um som que não se parece com nada que já tenhamos ouvido para se unir num longo encantamento etéreo, quase pop, quase rock, quase minimal, quase ambiente, quase lounge, quase qualquer coisa, mas longe de tudo, para acabar com uma guitarra quase acústica “golden glow…”.

Porém, a viagem ainda está no seu início. As duas moléculas de hidrogénio ainda estão a uns quantos anos-luz do seu prometido oxigénio. “Native Willow” é a senhora que se segue. Segunda paragem, agora numa qualquer lua minimal de Plutão planeta, se assim o gostarmos de definir. Minimal dizia, som de clube num estilo híbrido anglo-germânico, o abrir de uma pista num refinado bar londrino ou banda sonora de uma qualquer noite dormida sob um cobertor de estrelas, escolha de acordo com as sensibilidades. Uma constante de bem-estar que dá o tom para “Upon The Dust”.

Construído à volta do minimal anterior, a música vê acrescentar-se-lhe a voz de Will em conjunto uníssono com uma batida em sossego desassossegado que, viajando na luz, se vê constantemente na eminência de quase parar a sua marcha para nos apontar a cor de um céu ou o sorriso de um passante que nos escaparia se de uma outra forma fosse. Uma música em que nos esquecemos, por minutos, que estamos no mundo; em que somos, por instantes, poeira dançando nas estrelas.

Mas a viagem continua. “Kelper”, xilofone no seu início a mandar o ritmo que acompanha os “pingos de chuva”, afinal de contas sons registados “no mundo que habitamos”, que caem no grande “melting pot” universal. Quase na sua metade, dá-se uma ténue viragem na musicalidade com a inclusão de bateria em contratempo, espaço de reavaliar o caminho seguido até então diríamos, para voltar renascida para os minutos finais com a bateria a fazer panda com uma voz de coro grego a embalar esta lounge bem cozinhada a bom porto, nota-se a calmaria…

“Howl” surge quase como um interlúdio de sinfonia. Se começamos no espaço, no espaço continuamos. Agora, os instrumentos alimentados a tecnologia de ponta de Heimer levam-nos até uma Aurora, que até podia ser Bureal, mas que se coaduna mais verdadeiramente com a dawn of mankind representada no filme de Kubrick “2001, Odisseia no Espaço”.

Findo este espaço espacial, o álbum entra na sexta e belíssima “Sunbeamer pt II”, segunda parte da “Sunbeamer” iniciada no predecessor álbum Ground Luminosity. Música feita de rendilhados e sentidos, todos eles, numa carta de amor quase desesperada… “When I wake up from the past, I can still find you in all I observe, but despite all, I have come to realise, I still feel like I'm running out of time”.

Este sem tempo, absorvido numa intimista electrónica pontuada por uma consistente linha de baixo, deixa entrever a beleza e suprema teatralidade presentes na voz de Will, ainda que trabalhada pela mesa de mistura.

Se, as duas moléculas de hidrogénio de que falávamos, fossem gente, seriam, com certeza, Will e Heimer, porque Samson “know that you were reborn as the sun, that carries on all of your love”, só não sabemos quem é o oxigénio…ainda…

Mistério que parece adensar-se com “Juniper”. Volta o minimal, a espaços mais dançante do que contemplativo como nas anteriores faixas, a que se acrescentam guitarras e baixo subterrâneos entrecortados por intermitências vocais e obtem-se uma música/receita de viagem ao pôr-do-sol, no entanto, mais posto do que sol.

A seguir Thom York. Mentira, mas bem que podia ser. Ao ouvirmos “Stir”, somos transportados para a atmosfera intimista de Amnesiac. Um “Amnesiac” feito de electrónica sim, mas com um forte toque analógico. A começar na guitarra e a acabar na bateria gravada “ao vivo” e a quem a electrónica empresta a magia de dreamy sounds a gosto e acerto.

Uma das mais completas e belas músicas de todo o disco. A isto não será alheio, com certeza, o tempo. Mais de seis minutos e meio de enlevamento sonoro que aproximam, cada vez mais, Will Samson & Heimer do sublime equilíbrio químico, sempre almejado mas raras vezes atingido.

Podíamos e, porventura, devíamos estar aqui mais tempo, sempre o tempo…Seria sinal de que o álbum não acabaria em “Dreamtape”. Chillout espacial de beleza transcendental. Aqui afirma-se o sonho que vivemos durante nove músicas, mas não foi sonho, é realidade.

As duas moléculas de hidrogénio que seguíamos encontraram o seu oxigénio, que é como quem diz Will Samson & Heimer encontraram Animal Hands. A equação química atingiu o equilíbrio, momento de curta duração ou, no acertar de contas, a duração de um disco…

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