DISCOS
Kyle Hall
From Joy
· 11 Fev 2016 · 12:32 ·

Kyle Hall
From Joy
2015
Wild Oats
Sítios oficiais:
- Wild Oats
From Joy
2015
Wild Oats
Sítios oficiais:
- Wild Oats

Kyle Hall
From Joy
2015
Wild Oats
Sítios oficiais:
- Wild Oats
From Joy
2015
Wild Oats
Sítios oficiais:
- Wild Oats
A promessa que não promete.
De Kyle muito se foi esperando desde que se apresentou em 2007 com o aventureiro Plastik-Ambash, editado pela FXHE Records de Omar S: o vinil, apenas com um tema impresso, revelava um jovem impaciente com vontade de desafiar as convenções da house de Chicago e os paradigmas do techno de Detroit; Plastik-Ambash ainda hoje é um híbrido obscuro. Seguiu-se Worx Of Art em 2008, EP editado pela Wild Oats: o jovem impaciente revelava então alguma sobriedade, acima de tudo um sentido estético.
Até 2013, ano do primeiro álbum – um tratado rítmico derivado, paradoxalmente formal –, o detroiter foi navegando sem compromissos definitivos, apesar das maravilhas que muitos viam nele: os EPs de 2010, Must See e Kaychunk (este último editado pela Hyperdub), exercitavam estilo, divagando entre a house-soul-jazz dos seus conterrâneos (Theo Parish ou Moodyman) e uma espécie de pós-brokenbeat onde electro-funk era sodomizado pelo emergente footwork – uma descrição desconcertada, certo, mas a música lá tinha a sua consistência.
The Party Boat, o tal tratado rítmico derivado, paradoxalmente formal, mostrou-nos um Kyle que engoliu fórmulas e quis ser progressista. Mas o groove – o genuíno, aquele que bate cá dentro – não funciona assim. A boa música não funciona sem alma. E faltou algum espírito a The Party Boat . E Kyle Hall apercebeu-se disso.
O que aconteceu até From Joy, Deus saberá. Mas desconfia-se, desconfiando deste novo disco. Ele tem a harmonia que o debutante não tinha. E isso é um factor que joga a seu favor. Contudo, sabemos que From Joy alinha material anterior a The Party Boat. E tudo parece redenção. E o que parece, é. From Joy agrupa temas que foram gravados na garagem/ estúdio do pai de Kyle quando Kyle era livre, despreocupado e fazia música por puro gozo (Joy era o nome da rua onde tudo aconteceu). Um produtor tão jovem, já forçado a mergulhar no arquivo do que fazia bem há quase dez anos?
Eis porque From Joy, apesar de ser uma honesta obra vinda da motor city, não está ao nível do exímio que a cidade nos tem proporcionado. Nas últimas duas décadas, Kenny Dixon Jr., Marcellus Pittman, Rick Wilhite e Theo Parrish – os eternos 3 Chairs, que em 2004 deram nova alma a Detroit com o gigante manifesto house Three Chairs 3 – passaram o tempo a desafiarem-se, a tentar quebrar maneirismos, a revigorarem as linguagens clássicas sem as desvirtuarem. Moodyman e Theo Parrish (esses gigantes discretos) não existem meramente porque fazem música cool. Eles ainda hoje olham para o horizonte a exigir mais. Kyle Hall também já olhou para o horizonte. O seu problema é que agora prefere olhar para os pés. Por segurança. Não vá cair e voltar a perder a alma.
Rafael SantosAté 2013, ano do primeiro álbum – um tratado rítmico derivado, paradoxalmente formal –, o detroiter foi navegando sem compromissos definitivos, apesar das maravilhas que muitos viam nele: os EPs de 2010, Must See e Kaychunk (este último editado pela Hyperdub), exercitavam estilo, divagando entre a house-soul-jazz dos seus conterrâneos (Theo Parish ou Moodyman) e uma espécie de pós-brokenbeat onde electro-funk era sodomizado pelo emergente footwork – uma descrição desconcertada, certo, mas a música lá tinha a sua consistência.
The Party Boat, o tal tratado rítmico derivado, paradoxalmente formal, mostrou-nos um Kyle que engoliu fórmulas e quis ser progressista. Mas o groove – o genuíno, aquele que bate cá dentro – não funciona assim. A boa música não funciona sem alma. E faltou algum espírito a The Party Boat . E Kyle Hall apercebeu-se disso.
O que aconteceu até From Joy, Deus saberá. Mas desconfia-se, desconfiando deste novo disco. Ele tem a harmonia que o debutante não tinha. E isso é um factor que joga a seu favor. Contudo, sabemos que From Joy alinha material anterior a The Party Boat. E tudo parece redenção. E o que parece, é. From Joy agrupa temas que foram gravados na garagem/ estúdio do pai de Kyle quando Kyle era livre, despreocupado e fazia música por puro gozo (Joy era o nome da rua onde tudo aconteceu). Um produtor tão jovem, já forçado a mergulhar no arquivo do que fazia bem há quase dez anos?
Eis porque From Joy, apesar de ser uma honesta obra vinda da motor city, não está ao nível do exímio que a cidade nos tem proporcionado. Nas últimas duas décadas, Kenny Dixon Jr., Marcellus Pittman, Rick Wilhite e Theo Parrish – os eternos 3 Chairs, que em 2004 deram nova alma a Detroit com o gigante manifesto house Three Chairs 3 – passaram o tempo a desafiarem-se, a tentar quebrar maneirismos, a revigorarem as linguagens clássicas sem as desvirtuarem. Moodyman e Theo Parrish (esses gigantes discretos) não existem meramente porque fazem música cool. Eles ainda hoje olham para o horizonte a exigir mais. Kyle Hall também já olhou para o horizonte. O seu problema é que agora prefere olhar para os pés. Por segurança. Não vá cair e voltar a perder a alma.
r_b_santos_world@hotmail.com
ÚLTIMOS DISCOS


ÚLTIMAS