Há um sofrimento poetado que reza assim: Morremos de morte igual / Mesma morte severina / Que é a morte de que se morre / De velhice antes dos trinta. Reconhecem-no? É o da legião de ainda crianças que é atirada drasticamente para um berço adulto, o grito de socorro da adolescência - serei bom? Serei feliz? Serei alguém? E há quem o veja num poema antigo tal como há quem o coloca lado a lado com a urgência hardcore.

Assim são os Enema Noise, de Brasília, a colocar essa alienação em um minuto e vinte e quatro: Fogo amigo acerta em cheio o alvo imóvel que sou eu / Eu quero e não resisto / Morto por quem me quis vivo, traição perdida em rajadas de ruído e groove quanto baste, na melhor tradição dos Fugazi ou dos At The Drive-In. Enema Noise, o EP, contém treze minutos de pós-hardcore do bom, curto e conciso. E não o quereríamos de outra forma.

Do call and response de "Curta-Corda", passando pelo desenho jazz de "Quebrada" ao quase metal de "Arenhart" é verdade que não há muito por onde escolher - são só cinco faixas - mas o que há é mais do que satisfatório, digno de figurar nos diários dos Severinos deste mundo. E, se não for num diário, que seja na pista, rodeado de pancadaria punk rock. A juntar a Ombu e gorduratrans, há um Brasil com dores de crescimento - e isso tem resultado nalguma da melhor música em língua lusa que temos escutado ultimamente.