DISCOS
Dilly Dally
Sore
· 28 Dez 2015 · 12:11 ·
Dilly Dally
Sore
2015
Partisan Records


Sítios oficiais:
- Dilly Dally
- Partisan Records
Dilly Dally
Sore
2015
Partisan Records


Sítios oficiais:
- Dilly Dally
- Partisan Records
Gargantas que arranham.
Para uma certa geração, a expressão Dilly Dally (perda de tempo derivada da indecisão) remeterá sempre para a letra de “Porcelina Of The Vast Oceans”, dos Smashing Pumpkins de Mellon Collie And The Infinite Sadness. Passadas algumas gerações, todavia, surge um grupo de quatro músicos de Toronto, prontos a criar uma nova ligação mental à dita expressão. E aparecem diante de nós munidos do talento e atitude que lhes permitiu criar uma óptima série de onze canções. Existindo resquícios nítidos do Riot Grrl conforme entendido por bandas como as Babes In Toyland, e as Hole dos momentos mais pesados de “Live Through This”, existe igualmente uma clareza na execução, que dá ao rock noisificado-distorcido das Dilly Dally o carimbo de propriedade que, espera-se, as levará a ainda melhores resultados no futuro, com o natural crescimento.

Nas músicas dos Dilly Dally, o principal destaque tem que ir para a voz de Katie Monks. E esse destaque nasce imediatamente ao ouvirmos a faixa inaugural “Desire”. A alternância de frases que soam a cordas vocais a rasgarem pele, com outras de olhar fura-vistas-alheias, colocam-na como uma das melhores descobertas no mundo dos vocalistas de 2015. “Purple Rage” é outro belo exemplo de como não gostaríamos de estar num concerto, e entornar uma bebida acidentalmente por cima da camisola dela. Digamos que talvez não se ouvisse uma voz rock assim desde Jennifer Herrema (Royal Trux, Black Bananas). Já as guitarras, nas quais divide protagonismo com Liz Ball, são gordas, contagiantes, e cobertas de açúcar com espinhos de rosas. Nelas, em músicas como “Ballin Chain”, “The Touch” ou “Get To You”, sente-se aquele delicioso balançar de mar revolto. De uma plateia a mexer a cabeça em uníssono. De Lou Barlow indeciso no estúdio sobre se há de tocar Sebadoh ou Dinosaur Jr, com os Royal Trux de Accelerator a baterem-lhe à porta enquanto ensaiam já no corredor. A banda fica completa com o baixo de Jimmy Tony e a bateria de Benjamin Reinhartz, os quais suportam o peso da música das colegas com o impacto que uma secção rítmica deve ter num caso destes, por forma a não desperdiçar o que está por cima.

Sore não é um disco de mudar mundos per se. Poderá, isso sim, fazer com que novas bandas sigam o exemplo do quarteto canadiano, e se lancem à aventura no campo das vozes que disparam dardos afiados, e das guitarras que as fervem a lume alto. E isso se não contarmos com as próprias Dilly Dally. Pois não seria de espantar que o próximo disco as consolidasse como banda a acompanhar com fervor. Já a “balada” de piano que encerra o disco, “Burned By The Cold”, em nada destoa – muito graças a Monks – e deixa antever futuros caminhos. Talvez tenhamos um daqueles típicos discos em que o alto-está-mais-alto, e o calmo-está-mais-calmo. Especulações. Por ora, fiquemos com Sore, para nos espicaçar. Só não tentem cantá-lo sem uma colher de mel ao pé.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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