Não tenho estado atento aos beatmakers nacionais e isso é triste. Porque eles existem, porque são tão bons ou melhores do que os demais, porque ainda vivem numa nação onde a cada novo nome anunciado para um festival mainstream centenas de mongóis enfurecidos descem pela encosta, de espada eléctrica e escudo de efeitos na mão, bramindo o seu grito de guerra: Falta rock! Falta rock!, ainda que por "falta rock" se entenda "falta Pearl Jam", "falta Tool", "falta System of a Down" e demais lixo. É triste, mas é o país que temos.

Mas dizia eu que não tenho estado atento aos beatmakers nacionais. Ainda bem que me caiu no colo, então, este novo EP de Holly, também conhecido como Miguel Oliveira, e que por acaso é irmão de outro grande beatmaker, o famosíssimo DJ Ride. Isto interessa caso queiramos avaliar a obra de Holly por si? Nem por isso, mas a ligação - e as influências - são notórias. Mas menos interessa deixá-lo à sombra do irmão, que é uma tarefa sempre complicada para aqueles que tiveram o azar de não serem os primeiros a nascer.

Contudo, a julgar por Manere Aurum, Holly não viverá nunca à sombra do irmão; ao invés, caminhará com ele lado a lado, em plena harmonia beatífica. É pô-lo a tocar e deixar o fumo entrar e sair pelas narinas, a noite mergulhada de chuva vista da janela do quarto. Da delícia hip-hop de "Here Goes Nothing", à estranheza jungle de "±±±", passando por "Unknown Knowledge" e por "Do You Want It", dona de uma beleza assustadoramente terrível (e que assusta qualquer um que a ouça com headphones, os quais retirará por três ou quatro vezes durante a canção para tentar perceber quem caralho está a bater no tecto). O nome diz tudo - este EP vale ouro.