DISCOS
Black Cilice
Mysteries
· 25 Nov 2015 · 11:02 ·
Black Cilice
Mysteries
2015
Iron Bonehead


Sítios oficiais:
- Iron Bonehead
Black Cilice
Mysteries
2015
Iron Bonehead


Sítios oficiais:
- Iron Bonehead
Quando menos é mais.
Resumindo a coisa ao essencial (existe algo mais black metal que isto?), Black Cilice é um projecto de um tipo português - não se sabe muito bem quem, nem muito bem de onde - e Mysteries é o seu terceiro disco. E é do melhor que se fez por cá este ano. Estilisticamente, o disco está mais próximo de uma actualização do som das Legiões Negras francesas do que de qualquer moda da última década, década e meia de black metal. Pensar o género é cada vez mais encarar um objecto uncanny, cujos contornos distinguimos mas não reconhecemos totalmente. Basta ver as discussões à volta de Deafheaven e Myrkur. Ainda assim não há uma forma “certa” de fazê-lo, nem poderia. Nesse sentido, Black Cilice, e em especial neste disco, não tenta reinventar a roda, mas sim torná-la sua. O que há é uma tentativa de despir o som até ao essencial, uma tempestade de tremolo picking, blast-beats e voz que combatem entre si. O que resta assemelha-se a uma nuvem de ruído, como se a produção, lo-fi e nunca lol-fi, estivesse pensada de forma a criar um drone indistinto onde ainda assim algumas coisas sobressaem, umas miragens no meio de tanta fealdade. Isso está presente em todo o disco, mas nunca melhor na faixa de abertura, a óptima To Become.

A primeira das seis faixas que compõem o disco, To Become captura na perfeição a ideia cliché de black metal primitivo, transcendendo-o com as suas repetições e tendências experimentais. Esta ideia já tinha sido tentada no disco anterior do projecto, “Summoning the Night”, mas com menos sucesso. Numa época em que as bandas se exibem demasiado, Black Cilice está bem representado no artwork de “Mysteries”: primitivo e misterioso em partes iguais, mas distinto o suficiente para não ser confundido com o exército de clones de x e y que inundam a internet todos os meses.

Dizer que Mysteries apanhou muita gente desatenta é um understatement. Começou pela Noisey e pela Kim Kelly, o equivalente metaleiro do Captain Obvious, a constatar, novamente, o óbvio. Depois foi a vez da Pitchfork babar-se. Entretanto, muito boa gente andou ocupada a olhar para o alinhamento do Roadburn e a decidir que bandas é que vão ser “do caralho” nos próximos meses. Houve ainda quem começasse a falar da cena black metal islandesa, o que, em 2015 (!), implica uma desatenção ou um lag de um ano, ano e meio. Que Mysteries seja um disco do caralho não surpreende ninguém: já o era Summoning the Night, de 2013. A diferença é que um sai pela Altare e outro pela Iron Bonehead, e isso pesa no subject do mail de muito boa gente.
Vitor Bruno Pereira
pereiravb@gmail.com

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