DISCOS
Universal Indians & Joe McPhee
Skullduggery
· 28 Out 2015 · 10:22 ·
Universal Indians & Joe McPhee
Skullduggery
2015
Clean Feed


Sítios oficiais:
- Clean Feed
Universal Indians & Joe McPhee
Skullduggery
2015
Clean Feed


Sítios oficiais:
- Clean Feed
Freezada à moda antiga.
Os Universal Indians são um grupo de base europeia que assenta arraiais numa improvisação livre e assumidamente rugosa. O trio junta o saxofonista americano (residente em Amesterdão) John Dikeman com os noruegueses Jon Rune Strom (contrabaixo) e Tollef Østvang (bateria). A inspiração do trio é o free enérgico pós-mid-1960’s, de Ayler até Brötzmann.

Partindo desta premissa, será para o grupo um grande prazer colaborar com um músico lendário, cujo início da carreira remonta aos anos dourados do free jazz, Joe McPhee. Para McPhee a ideia de colaborar com um trio europeu de uma geração mais jovem também não será novidade, uma vez que tem colaborado com os The Thing (parceria mui recomendável) e o Trespass Trio, entre outros.

Nesta colaboração, registada em disco pela Clean Feed e também já apresentada ao vivo no nosso país, os Indians encontram em McPhee um parceiro musical pouco óbvio. De um lado está um trio que procura soluções rápidas e fáceis, cultor da estética do grito e da propulsão enérgica, que ferve em pouca água. Do outro lado está McPhee, com o seu fraseado estruturado, o desenvolvimento demorado, que evolui tranquilamente para atingir o clímax com toda a intensidade.

Com essas bases, a união sonora não seria evidente, mas o quarteto trata de a trabalhar. Em Skullduggery não ouvimos um grupo jovens músicos a prestar reverência a um histórico, mas também não vemos simplesmente McPhee a adaptar-se ao grupo (é demasiado grande para isso). McPhee junta-se ao trio, escuta, adapta-se, mas faz também o grupo procurar outros caminhos, promove diálogos e lança ideias.

O veterano multi-instrumentista aplica-se no saxofone e pocket trumpet e é especialmente interessante ouvir os duelos de saxofones, nos vários momentos em que Dikeman e McPhee dialogam entre si. Aqui encontramos menos vezes o lirismo típico de McPhee mas, condicionado pelo contexto, encontramos muitas vezes a ferocidade que é outra das suas marcas.

Não sendo um registo particularmente memorável para McPhee – só este ano editou outros discos notáveis, com o quarteto do nosso Rodrigo Amado (This Is Our Language) e o quarteto de Ticonderoga, com Morris, Saft e Downs – este disco será, para a discografia dos Universal Indians, um passo magnífico. Empoleirando-se nos ombros do gigante McPhee, o trio Universal Indians evolui para um outro nível.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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