DISCOS
King Midas Sound / Fennesz
Edition 1
· 09 Out 2015 · 11:10 ·
King Midas Sound / Fennesz
Edition 1
2015
Ninja Tune


Sítios oficiais:
- King Midas Sound / Fennesz
- Ninja Tune
King Midas Sound / Fennesz
Edition 1
2015
Ninja Tune


Sítios oficiais:
- King Midas Sound / Fennesz
- Ninja Tune
Há uma beleza enjoada por aqui.
Kevin Martin e Christian Fennesz andam nisto desde o fim dos anos 1980. Hoje ainda produzem, especulam, elevam ideias, desafiam sentidos e entendimentos. Ambos têm carreiras distintas – a solo ou acompanhados. Poucos associarão isto: Kevin, enquanto The Bug – verdadeiramente o seu projecto a solo, aquele que o tirou da obscuridade, e em que ainda hoje opera com regularidade –, editou em estreia Tapping the Conversation em 1997. Ano exacto em que Fennesz se lançou em longa duração com Hotel-Paral.lel. Eu sei. É um pormenor de algibeira; daquelas coincidências.

King Midas Sound é agora um trio – Kiki Hitomi juntou-se a Kevin e a Roger Robinson. O disco de estreia, Waiting For You, de 2009, classifiquei-o aqui (no Bodyspace) como uma “droga agridoce capaz de ultrajar o ouvinte com um negrume urbano que conquista em definitivo no fim da cinquentésima audição”. O disco era, e é, uma obra exigente. De contradições. De tons alienígenas. Agreste, mesmo para ouvidos habituados. Enfim, um daqueles trabalhos de lirismo urbano soturno (entre dub, soul, hip-hop e qualquer-coisa-step) que ainda hoje – pessoalmente – revolve numa dimensão à aguardar particular sentido.

Fennesz tem uma vasta discografia. E um currículo intrigante. Trabalha a guitarra em glitches e cuts, distorcendo e recompondo fragmentos, improvisando aqui e ali, sobrepondo melódica electrónica em temperos atmosféricos. Modo drone. Quando falamos de “temperos atmosféricos” podemos dizer que existem pontos em comum entre King Midas Sound e Fennesz.

Edition 1, primeiro fruto de uma colaboração que se irá dilatar no tempo, é de combustão lenta. Mostra um sentido de build up. Puxa pela ansiedade. Aguarda-se que algo aconteça. O problema? Nada acontece verdadeiramente. Isto porque não há um verdadeiro atrito que se esperaria de uma colaboração de personalidades tão particulares. Ou melhor, as duas personalidades acabam de alguma maneira entorpecerem-se uma à outra; num extremo anularem-se uma à outra.

Fennesz propõe uma paisagem sonora de inseguro romantismo – e depressa se entende que ensacou a guitarrinha com que gosta de voar. Kevin também propõe paisagismo, urbano e nevoento. Demasiada melancolia drone escorre nos canais desta produção possuída de ambiguidade; uma que também relega os seus poéticos colaboradores – Kiki Hitomi ou Roger Robinson – para plano secundário, dando-lhes apenas espaço para expressarem frustração, nunca lhes permitindo refulgente voz capaz de furar a densa névoa. Por enquanto, a música soa excessivamente opaca, lânguida pela tristeza. Sem grandes rasgos fantasiosos.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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