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Now It’s Overhead
Now It’s Overhead
· 08 Abr 2004 · 08:00 ·
Now It’s Overhead
Now It’s Overhead
2001
Saddle Creek


Sítios oficiais:
- Saddle Creek
Now It’s Overhead
Now It’s Overhead
2001
Saddle Creek


Sítios oficiais:
- Saddle Creek
A Saddle Creek é uma editora enervante. A propalada tendência para amontoar debaixo do mesmo conceito pais, filhos e enteados complica-se com os nervos de qualquer bon vivant. Por vezes, as pessoas parecem esquecer que o rock nasceu do confronto, do rompimento com o discurso da tradição, do conflito geracional, do entrincheiramento entre progenitores e crias, do morder da mão que nos estende o alimento. Além do mais, a musicologia de cabeceira já provou que as uniões de facto ou de consanguinidade na música costumam dar molho.

Então é assim: os Now It’s Overhead são o vocalista, multi-instrumentista e produtor Andy LeMaster, a também vocalista, trompetista, teclista e baixista Orenda Fink, a ainda e sempre vocalista e teclista Maria Taylor, e o vocalista e baterista Clay Leverett. Ora, LeMaster, juntamente com David Barbe dos Sugar e Andy Baker dos Glands, é dono do Chase the Park Transduction Recording Studio, onde trabalhou, entre outros, com os Japancakes, as prima donas Azure Ray, e os Bright Eyes, projecto-sensação de Conor Oberst, com que LeMaster também anda em digressão. Já Fink e Taylor são as sugababes das Azure Ray, que também alinham pela Saddle Creek.

Quando a paciência começa a esgotar-se por tão calorosas afinidades, lá se consegue pôr a rodela a girar para ver se a música impressiona mesmo, ou se não passa tudo de uma versão mais entradota do Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras. E a verdade é que Now It’s Overhead até tem alguns bons momentos, escassos mas bons. Daqueles que apetece encerrar na caixa de Pandora e só a eles voltar quando a vida não corre de feição, e somos capazes de trocar algum alento por tuta e meia. Daqueles prazeres privados, inconfessáveis, que nos confortam num dia e envergonham no seguinte.

Fixados em Athens, nos Estados Unidos, os Now It’s Overhead são como que druidas de um certo indie rock arranjadinho, onde há sempre uma última melodia antes da seguinte. A quem apetece vociferar que não é justo que nos arrastem com eles para a auto-flagelação e o tormento, que são as linhas com que se cosem. São irrepreensíveis no que respeita à execução. Tudo afinado, nada fora do sítio, como aliás qualquer outro fardo entroncado na editora Saddle Creek. Mas são despropositados nos favos de mel com que juntam as canções, desafectados no modo como cantam o amor e a perda.

É pop com camadas, como todas as outras bandas pop minimamente escrupulosas de si e que se desenvolvem como cogumelos. Temas como “Hold Your Spin†ou “Wonderful Scar†são os tais momentos que mais fogem da magna carta da etiqueta que os enfileirou no mercado. O primeiro até se consegue trautear depois de uma noite de vícios. O outro marca pontos pela respirabilidade que imprime à voz, cordas e teclas. E “A Skeleton on Display†mostra que se pode ser um bom escritor de canções com os indicadores de libido em baixo. Mas que se danem os Now It’s Overhead, teremos sempre os The Shins.
Hélder Gomes
hefgomes@gmail.com

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