DISCOS
Savina Yannatou & Primavera En Salonico
Songs Of Thessaloniki
· 24 Jun 2015 · 11:54 ·
Savina Yannatou & Primavera En Salonico
Songs Of Thessaloniki
2015
ECM Records


Sítios oficiais:
- Savina Yannatou & Primavera En Salonico
Savina Yannatou & Primavera En Salonico
Songs Of Thessaloniki
2015
ECM Records


Sítios oficiais:
- Savina Yannatou & Primavera En Salonico
A origem do mundo.
O país perdeu-se no tempo e nas expressões. A mesma Grécia que é hoje sinónimo tanto de rebelião como de intransigência, tanto de liberdade como de ladroagem, é a mesma que outrora deu origem ao que entendemos hoje como "civilização ocidental". A mesma Grécia das austeridades, das saídas do Euro e da Aurora Dourada e do Syriza é a mesma que, há séculos e séculos atrás, transmitiu o seu saber a milhões de seres humanos, que o passaram de geração em geração, até hoje. A mesma Grécia que divide a Europa é a mesma que a criou, e à sua ideia. Perdida por entre as balas mútuas dos diplomatas, um simples facto: devemos mais à Grécia do que aquilo que ela nos deve a nós.

A voz de Savina Yannatou, nascida em Atenas nos aparentemente longínquos anos cinquenta, a isto não está alheia. Mas quem é Savina? Procuramos informação, um texto em que possamos saber mais sobre as suas origens e as suas preocupações, e damos de caras com uma discografia vasta cuja origem remonta a 1980. Encontramos colaborações com músicos da área do jazz, da electrónica, da folk tradicional, elementos que encontramos igualmente em Songs Of Thessaloniki, o seu novo disco com a banda que a acompanha há já algum tempo, os Primavera En Salonico. Encontramos amizades travadas com Ken Vandermark e Damo Suzuki. Só não encontramos é algo que explique porque razão não a encontramos nós antes...

Entre-se neste disco com um pensamento único na memória, aquele deixado explícito no primeiro parágrafo: devemos mais à Grécia e ao Mediterrâneo que a banha do que ela nos deve a nós. A estas canções, devemos ou deveríamos dever tudo. Encaixotar Songs Of Thessaloniki com o rótulo "músicas do mundo", umbrella term que ainda hoje pouco significado tem e que, na menor das hipóteses - não querendo enveredar pelo epíteto "racista" -, possui um certo carácter colonial, seria prestar-lhe um desserviço. Ou, pelo menos, não poderemos chamar-lhe "música do mundo" nesse sentido que o passar do tempo lhe foi atribuindo, mas num muito mais lato: é música do mundo porque desta música nasceu o mundo.

Não há aqui um género específico, mas sim uma ligação quase umbelical entre o passado e o presente, feita através da escolha minuciosa dos temas, que vão desde hinos a São Demétrio ("Apolitikion Agiou Dimitriou") a canções tradicionais gregas, turcas e búlgaras, até irlandesas (a fabulosa, e brechtiana, "Salonika"), e passando pelos próprios músicos, com a voz de Savina a elevar-se ligeiramente acima da excelência da banda que a acompanha. Ouvem-se diversos instrumentos, entre guitarra, alaúde, baixo, acordeão, violino, tocados com a precisão exigida; ouve-se grego, espanhol, inglês, ouve-se uma Europa inteira contida numa hora e sete minutos de álbum, uma Europa que um imbecil soundbyte de dez segundos pode extinguir no tempo das manchetes. Mais que música, é um lembrete. Mais que um álbum, é uma viagem maravilhosa.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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